Mais de 300 pessoas morreram desde a última quinta-feira (5) em Bangui, a capital da República Centro-Africana, pelos ataques de milícias contra a população civil, informou a Cruz Vermelha. Um funcionário do alto escalão dessa organização divulgou esse balanço provisório na noite desta sexta-feira (6), mas o número de mortos pode aumentar porque continuam as buscas por pessoas desaparecidas durante os últimos dias.
Quentin Ningatouloum, morador de Galabadjia Sinistré, disse que em seu bairro, ainda há corpos pelo chão.
— É complicado recolhê-los.
A Cruz Vermelha ainda não entrou na área e nós temos medo de epidemias.
A situação da segurança continua sendo caótica neste sábado na capital da república africana, apesar da presença de tropas francesas na cidade, assolada pela violência desde que as milícias de autodefesa cristãs — "Anti-Balaka" — começaram seus ataques, que foram prontamente respondidos pelas forças de segurança do país, com apoio da milícia muçulmana Séléka. "Os assassinatos continuam, os homens armados seguem presentes e cometem atos de violência na cidade", disse à Efe uma autoridade local do quarto distrito da capital.
Durante as primeiras horas da manhã deste sábado (7), Bangui tinha a imagem de uma cidade deserta, apesar de os soldados franceses terem intensificado suas patrulhas desde ontem à noite. O céu da capital estremeceu com o som dos aviões de combate do Exército francês que fizeram trabalhos de reconhecimento do terreno, segundo fontes militares.
Kevin Redebale, morador do norte de Bangui, contou que "hoje o dia deve ser decisivo". Ele foi obrigado a se refugiar em um mosteiro.
— O Exército francês deverá atuar para combater os homens da Séléka que continuam cometendo abusos em nosso bairro.
Os enfrentamentos se intensificaram na última quinta-feira, após os ataques dos milicianos "Anti-Balaka" - partidários do presidente deposto François Bozizé —, horas antes de a ONU autorizar uma intervenção militar da França, junto com uma força africana, para proteger à população civil e restabelecer a ordem nesse país.
Nas últimas semanas, ocorreram enfrentamentos entre partidários da Séléka com as milícias de autodefesa "Anti-Balaka" ("anti-facão" em sango, a língua nacional). Os milicianos cristãos atacaram civis muçulmanos, a mesma crença dos membros da Séléka, mas minoritária no país, o que provocou represálias. A crise da República Centro-Africana começou quando, no dia 24 de março, a capital foi tomada pelos rebeldes da Séléka, que assumiram o poder no país após a fuga de Bozizé para o exílio.