O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou nesta terça-feira (3), que não pode ser um "engavetador de denúncias". Em audiência pública na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, Cardozo ressaltou que a Polícia Federal e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) são órgãos republicanos e que cabe ao ministro prezar pela "isenção" deles.
— São órgãos republicanos, independentemente do partido que dirija e cabe ao ministro da Justiça zelar para que isso ocorra. O ministro da Justiça não pode ser engavetador de denuncias. Não esperem de mim um comportamento juridicamente repreensível.
Na semana passada, a oposição chegou a pedir a demissão de Cardozo acusando-o de estar usando o cargo para fustigar tucanos e acobertar as prisões dos condenados do mensalão. Documentos obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, atribuídos a um ex-diretor da Siemens, apontaram o envolvimento de políticos do PSDB e do DEM no esquema.
Cardozo disse ter recebido denúncias apócrifas de formação de cartel nos metrôs de São Paulo e Brasília em maio, das mãos do deputado estadual Simão Pedro (PT-SP). Ele as encaminhou ao diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, para averiguar se era caso para realização de apurações. Todo esse procedimento, segundo ele, está legalmente dentro das suas atribuições.
Sem falar sobre o conteúdo dos documentos, que disse estar sob sigilo, o ministro afirmou que os papéis citavam nomes de pessoas que ele estimava "muito". Mas ele ressaltou que o pedido de análise para a PF é um procedimento padrão que ele seguiria, inclusive, se tivesse denúncias envolvendo familiares dele. Ele citou o fato de, sob a sua gestão, ter sido realizado a busca e apreensão no Escritório da Presidência da República em São Paulo.
Cardozo respondeu ao provável candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), que disse na semana passada que o ministro não teria mais "condições de liderar as investigações". Ele disse que, embora seja o chefe da PF, não lidera nem comanda as investigações.
— Pode pedir a investigação, mas quem comanda é o delegado de polícia, que, neste caso, já cuidava disso desde 2008.