O webdesigner britânico James Merriman, 28, sempre quis visitar o Irã. Mas a tensão internacional envolvendo o país o deixava receoso.
Há duas semanas, ele desembarcou em Teerã, embalado pelo apaziguamento da relação com o Ocidente em vigor desde que Hasan Rowhani assumiu a Presidência, em agosto, substituindo Mahmoud Ahmadinejad.
"A eleição de Rowhani foi fundamental para minha vinda. Do ponto de vista ocidental, ele é mais moderado", disse Merriman ao visitar o Palácio Golestan, um dos pontos turísticos da capital.
O volume de turistas entre agosto e outubro foi 35% maior do que na mesma época em 2012, segundo a Organização para Herança Cultural, Artesanato e Turismo, ligada ao governo. Nesse período, foi registrado 1 milhão de entradas.
Peregrinos xiitas continuam majoritários, mas a alta é acarretada em grande parte pelos ocidentais, que retornam ao Irã mais de uma década após tê-lo desertado.
"Nos anos 1990, havia ônibus abarrotados de gringos. Aí vieram o 11 de Setembro e a era Ahmadinejad, que afugentaram ocidentais. O setor só não morreu porque russos e chineses continuaram vindo, ainda que em pequenos grupos", diz Assad H., agente de viagens em Teerã.
Ocidentais hoje são visíveis nas ruas de Teerã e de cidades como Isfahan e Shiraz.
Andando sozinhos ou em grupo, elogiam a hospitalidade e a variedade de opções --desde roteiros culturais e históricos até passeios no deserto e estações de esqui.
"Viajei com muito medo, sem saber o que iria encontrar. Mas fiquei encantada com a delicadeza, a cultura e a educação das pessoas. Além disso, a comida é ótima e saudável", diz a fisioterapeuta brasileira Marisa Helena Weingrill, 57, que voltou de duas semanas pelo Irã.
Já há escassez de guias e sobrecarga da capacidade hoteleira. "Se continuar assim, no ano que vem não darei conta da demanda. Preciso fazer reforma urgente para ampliar meu número de quartos", afirma Mohamad Jalali, 27, dono de hotel em Yazd.
O Irã anunciou planos de dispensar vistos para cidadãos da maior parte dos países. Visitantes não contemplados poderão retirar vistos na chegada, com exceção de dez nacionalidades, como americanos e britânicos, que ainda dependerão de vistos emitidos por consulados iranianos no exterior.
Israelenses continuam vetados. Não está claro em que categoria brasileiros serão encaixados.
RESTRIÇÕES
Ambições oficiais esbarram, porém, em obstáculos que incluem serviços deficientes na maior parte dos hotéis e restrições impostas pela versão da lei islâmica em vigor no país.
A aposentada tcheca Jana K., 60, ficou tão contrariada pelo uso obrigatório do véu que se recusou a aparecer nas fotos do seu grupo. "É quente e desconfortável", disse.
Um jovem guia admite que as proibições representam um entrave. "Não há álcool nem sexo nem discoteca. No máximo, um jantar com música tradicional."
Segundo o rapaz, autoridades pressionam profissionais do setor a não falar de política nem se envolver com estrangeiros. "Um colega pagou caro por ter ido ao quarto de uma holandesa."
Apesar das limitações, o governo diz esperar que turistas estrangeiros se tornem "embaixadores da boa vontade" na reaproximação com o Ocidente.