Cientistas britânicos descobriram que morcegos africanos carregam mais vírus que representam perigo ao ser humano do que se imaginava. A pesquisa da Universidade de Cambridge mostrou que o henipaviruses, que provoca uma doença semelhante à raiva, é comumente encontrado entre os morcegos da espécie Eidolon helvum, encontrada na África.
O estudo publicado pela revista Nature Communications indicou ainda que, por ser de fácil transmissão para outros animais e humanos, esses morcegos oferecem um risco potencial aos humanos. Os mamíferos voadores se tornam especialmente mais perigosos por estes se reproduzirem nas cidades, onde buscam alimentos.
Para o pesquisador e epidemiologista James Wood, "não há razão para pânico imediato", no entanto. "Esses vírus são carregados pelos morcegos provavelmente há muito tempo. Mas eu acho que isso levanta questões sobre a vigilância sanitária e sobre os cuidados em evitar um contato que possa ocasionar uma possível transmissão".
Reservatório de doenças
Os morcegos já são conhecidos por serem hospedeiros de vírus, alguns dos quais podem ser transmitidos para animais e humanos.
Doenças como a Sars (síndrome respiratória aguda severa) e a causada pelo vírus ebola podem ter origem nos morcegos. O vírus Mers (coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio), com alto grau de letalidade, também teria se originado nos morcegos.
Já se sabia que a espécie Eidolon helvum, do continente africano, era hospedeira de vírus causadores de várias doenças infecciosas. Só não se sabia que eram tantas. Caso seja transmitido a outros animais e a humanos, pode ser mortífero.
Segundo o professor Wood, "na Austrália o vírus se espalhou para os cavalos, e dos cavalos foi para veterinários que atendiam os animais doentes, o que acabou com várias vítimas". "Na Malásia houve uma transmissão associada com porcos, em 1999, com mais de 100 criadores e funcionários de frigorífico mortos", conta.
Já um terço deles hospedavam vírus do tipo Lagos. Segundo o professor Wood, não há evidências de que os dois vírus tenham sido transmitidos a humanos na África. Ele ressalta, no entanto, que a vigilância sanitária é precária no continente e possíveis casos podem ter deixado de ser notificados.
A equipe de pesquisadores sugere que é importante aumentar a vigilância. Caçar os morcegos, no entanto, não é a medida mais efetiva, até porque eles fazem parte do ecossistema, dizem.
"Assegurar que os animais vivam em uma zona protegida é provavelmente a forma mais segura de direcionar os riscos, mais do que intervir e tentar fazer os morcegos" deixarem algum determinado local, diz o professor Wood.