Um movimento de protesto contra os baixos salários se fortalece a cada dia nas redes sociais entre soldados e cabos da Polícia Militar de Mato Grosso.
Iniciado logo depois da divulgação do 7ª Anuário Brasileiro de Segurança Pública, há duas semanas, que aponta o provento dos praças da PM local como o 23º salário do país, se expandiu para centenas de perfis no Facebook de militares, em muitos deles com mensagem em defesa da greve.
Ao contrário dos salários dos soldados e cabos, os coronéis mato-grossenses, que aqui ganham R$ 17,5 mil, aparecem no topo da pesquisa, como destaque na remuneração das polícias do país. De acordo com o documento, só é menor que o do Paraná, onde um coronel ganha R$ 21,5 mil.
Em Mato Grosso, o salário inicial do soldado é de R$ 2,1 mil, superior apenas ao dos PMs de Mato Grosso do Sul, Amazonas, Piauí e Rio Grande do Sul. Já o cabo, no final da carreira, com mais de 25 anos de serviço, ou seja, perto da aposentadoria, ganha R$ 3,7 mil (bruto).
Como a greve é proibida entre os PMs e manifestações podem resultar em punições administrativas, muitos policiais usam pseudônimos ou, quando declaram, pedem para omitir a identidade. É o caso do cabo que escreveu em seu perfil: “Juntos, somos um grande tubarão, mas precisamos unificar os pensamentos porque as necessidades são as mesmas”.
Outro desabafou dizendo: “a nossa guerra é contra o descaso com a nossa categoria, é contra a desvalorização profissional. Temos que lutar pelas conquistas e valorização da classe, pelo reconhecimento”.
O tenente-coronel Paulo Serbija, diretor de marketing da Polícia Militar, disse que antes de novembro de 2014 não há previsão de reajuste salarial. Serbija explicou que está em vigor a lei complementar 433/2011, que trata da progressão dos rendimentos dos policiais, aprovada após negociações das associações que representam as diversas patentes da PM com o governo do Estado. “O governo está cumprindo o que ficou acordado”, completou.
O presidente da Associação de Cabos e Soldados, cabo Adão Martins da Silva, diz que realmente está em curso um movimento que expressa o descontentamento da tropa. E com razão, observa. Internamente, informa ele, a entidade está discutindo essa questão, mas ainda não elaborou nenhuma reivindicação para apresentar ao governo do Estado. Adão observa que, conforme a lei complementar 433, o salário dos praças é vinculado ao do subtenente que, por conseqüência, tem como base a renda do coronel.
Um subtenente, o mais alto posto dos praças, ganha atualmente 32% do salário do coronel, ou seja, pouco mais de R$ 5,3 mil, enquanto o demais praças (sargento, cabo e soldado) têm seus salários escalonados com percentuais que variam de 40% a 90% do subtenente.
Em novembro de 2014, o provento do subtenente deve corresponder a 36% do coronel, o que significa que os salários dos soldados e cabos também terão uma pequena elevação. A luta, diz o cabo Adão, é para fazer com que o salário do subtenente chegue a 50% do coronel, como era até 2002, antes da substituição do escalonamento pelo subsídio.