A família do presidente João Goulart afirmou nesta quinta-feira (14) que a dívida do Estado brasileiro está paga, mas a exumação de seu corpo ainda não é suficiente para finalizar o processo de investigação sobre sua morte.
Presentes na cerimônia a viúva de João Goulart e ex-primeira-dama, Maria Thereza Fontella Goulart, e seu filho, João Vicente Goulart disseram que a cerimônia realizada em Brasília na manhã desta quinta para receber os restos mortais de Jango com honras de chefe de Estado foi um "ato de coragem", mas que só será concluído quando todos os lados da história forem ouvidos.
"É muito importante esse momento, é um resgate da memória do meu marido. A presença de todo mundo aqui é muito, muito importante. Foi um momento que eu não vou esquecer mais na minha vida. Realmente, que faz a gente esquecer até um pouquinho do passado, porque foi um momento muito bonito", disse Maria Thereza.
Questionada se a dívida do Estado com a família Goulart está paga, respondeu: "Não, acho que está tudo bem. Agora, com isso, está tudo ótimo."
"Demorou um pouco, mas nunca é tarde. Sempre há um momento em que a gente espera que aconteça alguma coisa importante. Na época, a gente estava muito longe, não teve esse momento de fazer uma autópsia. Acho que poderia ter até, mas ninguém foi capaz de fazer", continuou. "Acho que de coragem e de reconhecimento pelo presidente que ele foi. Porque acho que merecia."
"A exumação não é o fim desse processo. Solicitamos ao MP outros documentos, outras oitivas, existem agentes americanos que estiveram envolvidos na Operação Condor que não foram ouvidos ainda, mas já foram ouvidos em outros países. É um primeiro grande passo para o país, mas ainda há uma longa caminhada", disse João Vicente.
A ex-primeira dama sentou entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para acompanhar a cerimônia. Ao lado de Dilma estava o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente Fernando Collor de Melo. Familiares de Jango e demais autoridades políticas participaram da cerimônia em Brasília. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não compareceu, pois se recupera de uma diverticulite.
Após as honras militares fúnebres --concedidas a chefes de Estado--, às quais Jango não teve direito quando morreu, Maria Thereza Fontella Goulart recebeu a bandeira brasileira que estava em cima da urna com os restos mortais do presidente. A urna partiu às 7h50 desta quinta do aeroporto de São Borja (a 581 km de Porto Alegre), em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira), com destino a Brasília.
No mesmo horário, 11 familiares e a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) foram levados em um avião militar à base aérea de Santa Maria, de onde seguiram para Brasília a bordo do avião presidencial. Segundo informações da Força Aérea, a pista do aeroporto de São Borja não comporta tal aeronave.
Segundo a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos), ainda não há prazo para concluir o processo de exumação. Ela ressaltou, contudo, que trata-se de um momento inédito e que qualquer que seja o custo das investigações, nada pagará a vida dos perseguidos pela ditadura militar.
"A democracia não é algo pronto. É algo que se constrói todos os dias, inclusive com momentos como este, em que nós homenageamos um presidente constitucionalmente estabelecido e que foi deposto numa circunstância de golpe. Para que nunca mais aconteça, hoje estivemos aqui, forças civis e militares a partir da organização e determinação da presidenta", disse a ministra.