Mais de um ano depois de ter se tornado o pesadelo da dona de casa, o tomate voltou a ser o inimigo do orçamento do brasileiro, na hora das compras de supermercados: por causa da entressafra, em outubro teve alta de 18,65%, quando em setembro os preços tinham recuado 8,54%, explicou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que nesta quinta-feira (7) divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro.
O índice, que mede a inflação oficial do país, por ser usado como base para as metas do governo, ganhou força de setembro para outubro, passando de 0,35% para 0,57%, a taxa mais alta desde fevereiro, disse Eulina – e a alta foi puxada principalmente pelos alimentos (1,03% em outubro, contra 0,14% em setembro), com carne e tomate em destaque. Em 12 meses, a inflação dos alimentos chega a 8,88%, segundo o IBGE.
"De setembro para outubro a taxa do IPCA subiu de forma significativa e os principais elementos que contribuíram foram os alimentos, apesar de 5 dos 9 grupos pesquisados terem apresentado aceleração de um mês para o outro", disse Eulina.
Apesar do resultado maior no mês, o IPCA acumulado em 12 meses ficou em 5,84% – abaixo dos 5,86% de setembro e seguindo dentro da meta de inflação do governo federal, que permite que o IPCA oscile entre 2,5% e 6,5%. Em outubro do ano passado, o indicador havia ficado em 0,59%.
“Estamos na transição de safra, tomate tem uma safra curta, e a área plantada diminuiu bastante”, disse a coordenadora.
Se o preço do tomate sofre com a baixa produção da entressafra, o da carne, que saiu de uma variação de 0,88% em setembro para 3,17% em outubro, foi impactado pelo menor abate.
“Os pecuaristas trabalham com expectativa de ganho, e podem abater mais ou menos. E exportação aumentou, foi recorde em outubro. É um produto bem dolarizado, tem muito a ver com o câmbio”, explicou.
Segundo Eulina, pelas informações no varejo, nos preços que o IBGE coleta, nem sempre é visível uma pressão do dólar. "Em geral ela se inicia no preço dos alimentos ligados ao câmbio, como as commodities. Um exemplo é o trigo, que o Brasil importa", disse.
Não sendo autossuficiente em farinha de trigo, o Brasil importa da Argentina e dos Estados Unidos. Mas devido a problemas de clima, a produção na Argentina foi diminuída e encareceu.
“A Argentina teve problema e segurou o trigo. O Brasil importou dos Estados Unidos. A influência do dólar pesou e espalhou a inflação por um item forte no consumo: o pão francês.”
A farinha de trigo saiu de uma variação de 2,61% em setembro para 3,75% em outubro, somando uma alta de 32,59% em 12 meses, a maior entre os alimentos. Derivados de trigo como pão e macarrão em 12 meses registram altas de 14,51% e 15,90%.
As boas opções para a dona de casa são a cebola e a cenoura, as principais quedas de outubro: -10,71% e -10,34% respectivamente. Feijão carioca (-9,30%) e mulatinho (-7,23%) são outras quedas relevantes.
Não-alimentícios
Entre os produtos não-alimentícios, a maior alta ficou com o aluguel residencial, 1,02% em outubro contra 0,80% em setembro, somando em 12 meses uma variação de 11,55%. A inflação do grupo habitação chega a 3,45% em 12 meses.
A principal queda entre os não-alimetícios ficou com a energia elétrica residencial (-15,08%) em 12 meses), por conta de reduções de impostos.
"Em outubro aconteceram várias reduções no PIS-Cofins, mas é pontual. Energia caiu 15% no valor das contas neste ano. A gente acredita que na história recente da inflação não houve um item que puxasse tanto assim o IPCA para baixo como a energia", disse.
Impactos em novembro
Eulina antecipou alguns itens que vão impactar o IPCA de novembro, como o reajuste de 6,27% a partir de 1º de novembro na conta de água no Rio de Janeiro; e os aumentos na tarifa de energia elétrica no Rio, de 6,20% a partir desta quinta; em Porto Alegre, de 13,30%, a partir de 25 de outubro; em São Paulo, de 6,85%, a partir de 23 de outubro; e o aumento de 13% no preço dos cigarros a partir de 2 de novembro.