Fundamental no controle e prevenção da cárie dentária, o flúor deve estar presente na água tratada proveniente de abastecimento público. Essa medida, considerada a principal política pública na área de saúde odontológica, é obrigatória por lei no País, mas ainda não é uma realidade em Cuiabá.
Somente em julho passado, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) encaminhou ofício à Fundação Nacional de Saúde (Funasa), vinculada ao Ministério da Saúde (MS), para elaboração de projeto executivo prevendo a implantação de fluoretação no sistema de fornecimento de água da capital.
Após, o projeto será submetido à analise do MS, que libera 90% da verba necessária para a adição de fluoretos na água tratada. Ação faz parte do programa Brasil Sorridente.
Somente depois, será encaminhado à CAB Ambiental, concessionária responsável pelo abastecimento na cidade.
"Acreditamos que serão necessários pelo menos dois anos para a viabilidade do projeto, podemos inclusive, começar por regionais", disse o coordenador geral de Saúde Bucal de Cuiabá, José Ricardo de Amorim Santana.
A Funasa é responsável por apoiar os sistemas de abastecimento interessados em distribuir água fluoretada, fornecendo orientação técnica, capacitação dos funcionários das secretarias e financiamento de equipamentos e insumos.
Conforme José Ricardo, o projeto é necessário para estipular a quantidade segura de flúor a ser utilizado, impedindo que altas doses cheguem ao consumidor e evitando problemas como a fluorose (manchas brancas) e a perda da ação preventiva associada ao flúor. "Cuiabá é muito quente, onde diferentemente de outras regiões do País, as pessoas bebem muita água e esse consumo maior pode levar a fluorose", observou.
Especialista em promoção de saúde e no atendimento de bebês, crianças e adolescentes, a odontopediatra Eliane Garcia defende o uso do flúor na água fornecida à população. “Essa é uma discussão que vem há muito tempo. Na verdade, não tem que ser discutido e água deve ser fornecida com flúor, mas é uma questão que esbarra em um problema político. Cuiabá nunca teve água fluoretada e apenas algumas cidades do interior de Mato Grosso têm”, disse.
Eliane Garcia lembra que é alta a incidência de cárie até os 2,5 anos de idade no país. “Há prevalência de lesões iniciais de cárie, de mancha branca, é em torno de 70%”, informou.
As três principais causas são dieta rica em sacarose, amido e carboidratos, falta de higienização e do uso de dentifrício (creme ou pasta dental) fluoretado. Neste último caso, ela lembra que há três pontos fundamentais, que são a quantidade, concentração e a frequência de escovação.
Assim, creme dental com um mínimo 1100 ppm (partes por milhão) de flúor é recomendado duas vezes por dia para a limpeza dos dentes de todas as crianças. Para os menores de dois anos de idade, basta uma “lambuzadela” (metade de um grão de arroz cru). A partir dos dois anos, a quantidade deve corresponder ao tamanho de um grão de arroz e, dos 5 ou 6 anos, de uma ervilha.
Para amenizar a falta de flúor na água, a SMS entrega kits contendo escova, creme e fio dental às crianças da rede municipal de ensino. Em média, são distribuídos 10 mil kits por mês. “Vamos realizar pregão para adquirir mais 300 mil kits”, reforçou José Rodrigues.
Vale lembrar que apenas algumas marcas de água mineral possuem a adição do flúor, elemento natural encontrado na fonte e em muitos solos. Se tiver, isso é mencionado no rótulo.