Depois que França e Alemanha afirmarem que pretendem negociar com os Estados Unidos um código de conduta até o fim do ano para acabar com a espionagem, o governo americano admitiu nesta sexta-feira que as novas acusações feitas ao país “provocaram um momento de tensão” com alguns aliados, mas não deveriam afetar a cooperação em assuntos como Síria e Irã. Nesta sexta-feira, o governo alemão informou que enviará uma equipe de inteligência aos EUA para discutir a suspeita de espionagem a Merkel.
- Não há dúvida de que a revelação de informação sigilosa cria um momento de tensão com alguns dos nossos aliados. Estamos tendo discussões com esses aliados - disse a porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, referindo-se à visita a Washington na semana que vem de chefes de inteligência da Alemanha.
Psaki disse ainda que o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, discutiu as alegações com funcionários da França e da Itália durante uma recente visita à Europa. Mais cedo, a União Europeia advertiu para o risco dessa desconfiança prejudicar as operações internacionais de coleta de Inteligência. E, equilibrando-se entre a indignação e apelos para reconstruir os laços com os EUA, Alemanha e França anunciaram disposição em negociar um pacto com o governo americano, até o fim deste ano, para estabelecer um código de conduta para o monitoramento de seus serviços secretos.
- Kerry certamente sabe, à medida que perseguimos uma gama de prioridades diplomáticas, seja trabalhando em questões globais como a da Síria, ou Irã, ou em negociações comerciais, que será realmente um erro permitir que essas revelações atrapalhem isso - afirmou a porta-voz.
Merkel e Hollande não detalharam como funcionariam as novas regras de espionagem. Fontes diplomáticas, porém, especulam que as diretrizes poderiam ser semelhantes às do chamado “Cinco Olhos” - o grupo ultrassecreto onde EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia trabalham juntos e continuamente, compartilhando as informações que interceptam.
Na mesma semana em que a Alemanha disse ter provas de espionagem, publicações da França e da Itália revelaram que agências de inteligência dos EUA espionavam cidadãos e empresas desses países. Essas denúncias se basearam nos documentos secretos revelados pelo ex-técnico de inteligência dos EUA Edward Snowden, hoje asilado na Rússia. Outros países aliados dos EUA, inclusive o Brasil, já haviam se queixado das atividades norte-americanas de vigilância.
Merkel exigiu que o presidente dos EUA, Barack Obama, explique as atividades de espionagem do seu país, e na semana que vem diretores da BND, agência alemã de inteligência, pretendem ir a Washington. Além disso, europarlamentares embarcam na segunda-feira para os EUA a fim de discutir possíveis remédios jurídicos para cidadãos da UE. Washington e seus aliados europeus participam ativamente de iniciativas diplomáticas com o objetivo de encerrar a guerra civil na Síria e obter um acordo para limitar o programa nuclear iraniano.