Com o sonho de fazer pedagogia na Universidade Federal de Rondônia (Unir), em Vilhena (RO), o estudante Hugo Leonardo dos Santos, de 25 anos, que há três perdeu a visão, fará o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste final de semana pela primeira vez. Para incentivar outros jovens a correrem atrás de seus objetivos e superar dificuldades, Hugo realiza palestras motivacionais. “Meu foco são os jovens, principalmente aqueles que não se preocupam muito com os estudos”, diz.
Hugo concluiu o ensino médio no ano passado e neste ano prestará o Enem pela primeira vez. Santos afirma que a deficiência não representa dificuldade para estudar. “Além dos livros, tenho acesso à internet e também participo de um grupo para cegos onde posso tirar minhas dúvidas”, explica. Santos está mais preocupado com a redação e focou bastante no português, principalmente ortografia e gramática, durante os estudos para o exame. “Eu gosto de escrever, mas, para conseguir uma boa nota, preciso saber escrever bem”, afirma.
Perda da visão
Em 2009 o jovem procurou um oftalmologista por conta de um estrabismo no olho esquerdo, mas após a consulta ele foi encaminhado a um neurologista. Nesta mesma época ele começou a sentir uma dormência do lado direito do corpo. Exames revelaram uma pequena mancha no cérebro e ele foi, então, encaminhado para tratamento Cuiabá (MT).
O estudante passou por um procedimento para coleta de material para análise, o que acabou afetando a sua mandíbula, causando dificuldade na fala. Com o resultados dos novos exames o rapaz foi diagnosticado com um câncer no tronco cerebral.
Um ano após ter descoberto a doença, Santos conta que deu início às sessões de radioterapia, indicadas pelo médico, tendo em vista que ele não poderia passar por cirurgia, mas retornou a cidade natal antes do fim do tratamento. “Voltei porque o tratamento já começava a me fazer mal. Estava afetando minha visão”, lembra.
A cegueira veio três meses após o retorno para Vilhena. Hugo conta que sentiu uma dor nos olhos e foi dormir, ao acordar já não enxergava. O rosto da mãe foi à última imagem que ele diz ter visto. “Ela esteve ao meu lado durante todo o tratamento e essa imagem eu nunca vou esquecer”, declara Hugo. Além da perda da visão e da dificuldade para falar, o jovem tem uma deficiência motora, sequela do tumor.
Projetos
Mesmo com todas as sequelas, há um mês Santos decidiu dar palestras de motivação em escolas da cidade, com o lema “Não desisti, por isso estou aqui”, o estudante fala de motivação, deficiência visual e tentar mostrar aos jovens um pouco de como é a vida de um cego. De acordo com o estudante, a perda da visão não fez com que ele desistisse dos seus objetivos. “Vou estudar, meu objetivo é ter uma estabilidade no futuro”, afirma.
Além de escolas cidade, Hugo recebeu convite para fazer palestras também em empresas. Para desenvolver o trabalho ele teve o apoio de empresários da cidade para a confecção dos materiais de divulgação.
Santos conta que a vontade de dividir suas experiências e se superar a cada dia começou neste ano, o objetivo é não abandonar os estudos. “Eu vejo isso como uma forma de agradecer por estar vivo depois de tudo o que passei”, diz. Prova do emprenho do estudante é estar sempre em busca de oportunidades. Terminou recentemente dois cursos profissionalizantes, no próximo mês deve iniciar outro, e, além do Enem, está inscrito em dois concursos públicos.