O estudante Carlos Guilherme Custódio Ferreira, de 19 anos, autor do texto que incluiu uma receita de macarrão instantâneo no Exame Nacional do Ensino Médio de 2012, diz que sua atitude ajudou a mudar os critérios de correção da prova de redação do Enem. O jovem gostou das mudanças nas regras de correção da prova, que a partir de agora vai dar zero para quem deliberadamente fizer deboche durante a dissertação e fugir ao tema proposto. Mas acredita que algum candidato tentará "driblar" os avaliadores para brincar no texto.
O Enem será realizado neste sábado (26) e domingo (27) para mais de 7,1 milhões de inscritos. A redação será no segundo dia de exame. "O Enem está mais rigoroso, e a cada ano que passa melhora mais", afirma o jovem. "Eu também ajudei para que o Enem ficasse melhor. Achei um erro, mostrei para eles e assim puderam melhorar o exame. Vamos ver se na prática vai funcionar. Acho que alguém vai tentar fazer alguma gracinha na prova e, se passar, vai pegar muito mal." Carlos, no entanto, não recomenda que os estudantes façam isso e espera que eles levem o Enem a sério.
Carlos Guilherme escreveu receita no Enem
(Foto: Reprodução/EPTV)
Até 2012, a correção da redação permitia que quem fugisse ao tema perdesse pontos na prova, mas não necessariamente tiraria nota zero. Carlos, que interrompeu seu raciocínio no texto que falava sobre imigração para escrever "Para não ficar cansativo vou ensinar agora a fazer um belo miojo", seguindo com a receita do macarrão, não imaginava que seu gesto pudesse ter tantas consequências. Além de sua prova, o Enem do ano passado foi marcado por redações com erros graves de grafia e outra com trechos do hino do Palmeiras.
Redação com receita do macarrão instantâneo recebeu nota 560 no Enem (Foto: Reprodução/Facebook)
O "caso do miojo" ficou famoso em março, depois que Carlos postou no seu perfil no Facebook a correção da sua redação. Ele tirou 560 pontos na prova. "Não imaginei que daria essa repercussão. Se tivesse imaginado escreveria outras coisas", afirma o jovem, que está no terceiro período do curso de engenharia civil do Centro Universitário de Lavras (Unilavras), em Minas Gerais.
Como já estava matriculado em uma faculdade, que ele cursa com ajuda do programa de financiamento estudantil do governo, o Fies, Carlos se deu ao luxo de brincar durante a prova. Na época, o estudante disse ao G1 que queria testar a eficácia da correção: "Espero que as correções fiquem mais criteriosas e rigorosas a partir de agora. Eu fiz a prova porque já estava inscrito, mas não tinha muito compromisso, uma vez que já estou na faculdade", afirmou o jovem, em março.
Novas regras
Dois meses depois, o Ministério da Educação anunciou as mudanças nas regras do Enem. Para coibir tentativas de deboche na prova, um item foi acrescentado no artigo do edital que fala sobre as razões para que uma redação receba nota zero do MEC. O item 14.9.5 do edital diz que a redação "que apresente parte do trecho deliberadamente desconectada com o tema proposto, que será considerada "anulada"".
Veja como ficam as regras do edital para a anulação da prova:
14.9 Em todos as situações expressas abaixo, será atribuída nota zero à redação:
14.9.1 que não atender a proposta solicitada ou que possua outra estrutura textual que não seja a do tipo dissertativo-argumentativo, o que configurará “Fuga ao tema/não atendimento ao tipo textual”;
14.9.2 sem texto escrito na Folha de Redação, que será considerada “Em Branco”;
14.9.3 com até 7 (sete) linhas, qualquer que seja o conteúdo, que configurará “Texto insuficiente”;
14.9.3.1 linhas com cópia dos textos motivadores apresentados no Caderno de Questões serão desconsideradas para efeito de correção e de contagem do mínimo de linhas;
14.9.4 com impropérios, desenhos e outras formas propositais de anulação, que será considerada “Anulada”.
14.9.5 que apresente parte do trecho deliberadamente desconectada com o tema proposto, que será considerada "Anulada".