Após realização de perícia, foram identificados os quatro policiais militares que participaram ativamente da sessão de tortura a que o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza foi submetido ao lado do contêiner da UPP da Rocinha, na Zona Sul do Rio. Segundo informou o Ministério Público, nesta terça-feira (22), a identificação foi feita através da análise de vozes.
De acordo com a promotora Carmem Elisa Bastos, do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), o tenente Luiz Medeiros, o sargento Reinaldo Gonçalves e os soldados Anderson Maia e Douglas Roberto Vital torturaram Amarildo depois que o ajudante de pedreiro foi levado para uma "averiguação" para a base da UPP. Amarildo está desaparecido desde 14 de julho.
Ainda segundo o MP-RJ, mais 15 policiais militares, entre eles três mulheres, foram denunciados pelo órgão, totalizando 25 acusados pelo crime. As três policiais militares foram denunciadas por tortura – uma delas havia prestado depoimento na semana passada.
Dos novos denunciados, três terão a prisão preventiva decretada: sargento Reinaldo Gonçalves, sargento Lourival Moreira e soldado Wagner Soares. Gonçalves prrmanecia no cargo até a manhã desta terça-feira, antes da divulgação do aditamento da denúncia. Segundo a Corregedoria da PM, será pedido o afastamento do cargo de todos que tiverem a prisão decretada.
Novo depoimento
Mais um Policial Militar da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha prestou depoimento nesta segunda-feira (21) para o Ministério Público sobre o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza. Ele também acusou os PMs já presos de torturarem até a morte o ajudante de pedreiro, como mostrou o RJTV.
Passou para cinco o número de policiais militares da UPP da Rocinha que decidiram colaborar com as investigações do Ministério Público. Segundo promotores, as declarações feitas nesta segunda-feira pelo policial reforçam o depoimento dado pelo primeiro PM.
Há oito dias, ele afirmou que os policiais que estavam dentro da base da UPP da Rocinha ficaram aterrorizados com a violência durante a tortura contra Amarildo de Souza.
O policial havia contado que o ajudante de pedreiro foi torturado ao lado dos containeres da UPP. E que os PMs se articularam para apagar provas e atrapalhar o inquérito da polícia civil.
Denunciados
Dez PMs, entre eles o ex-comandante da UPP da Rocinha, major Edson Santos, já haviam sido denunciados e estão presos e pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. Na última sexta-feira (18), o major e o tenente Luiz Felipe de Medeiros foram transferidos da unidade prisional da PM para o presídio Bangu 8. Os promotores acreditam que eles estivessem impedindo colegas presos de prestar novas declarações.
O Ministério Público tenta convencer os PMs presos a falar o que sabem em troca da redução da pena, em caso de condenação. Ainda esta semana, outros policiais da UPP serão denunciados pelos promotores por participação no crime.
Capa de moto
O policial militar que prestou depoimento no MP sobre o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza disse que a capa da motocicleta usada para esconder o corpo do ajudante de pedreiro e retirá-lo da favela após a tortura, pertencia ao major Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha.
Ainda segundo o policial, durante a tortura o ajudante de pedreiro teria sido afogado dentro de um balde que ficava ao lado da UPP. O recipiente servia para armazenar a água que escorria do ar-condicionado do contêiner. O ajudante de pedreiro ainda teria sido submetido a choques. Em depoimento, o policial também disse que os envolvidos prejudicaram o trabalho da polícia. Um dia depois do desaparecimento de Amarildo, o local foi limpo e todos os vestígios de sangue apagados. Dois diuas depois da tortura eles também teriam jogado óleo no piso e construído um depósito no local.
Entenda o caso
Amarildo sumiu após ser levado à sede da UPP da Rocinha, onde passou por uma averiguação. Após esse processo, segundo a versão dos PMs que estavam com Amarildo no dia 14 de julho, eles ainda passaram por vários pontos da cidade do Rio antes de voltarem à sede da Unidade de Polícia Pacificadora, onde as câmeras de segurança mostram as últimas imagens de Amarildo, que, segundo os policiais, teria deixado o local sozinho.
No dia 27 de setembro, uma ossada achada em Resende, no Sul Fluminense, passou por uma necrópsia, motivada pelas suspeitas de que poderia ser de Amarildo. O relatório, porém, foi considerado inconclusivo, e a ossada será novamente analisada no Rio de Janeiro.