O embaixador da Bolívia no Brasil, Jerjes Justiniano Talavera, disse nesta sexta-feira (18) não acreditar que universidades bolivianas tenham participação no esquema de diplomas e documentos falsos de medicina obtidos por brasileiros para a revalidação. Em entrevista ao G1, Talavera contou que é ex-reitor e sócio minoritário de uma universidade privada na Bolívia, que foi citada pela Polícia Federal durante a Operação “Esculápio”, deflagrada em Mato Grosso e outros 13 estados.
“Fui surpreendido com toda essa questão e estou surpreso. Sou fundador e fui reitor durante oito anos na Universidade Nacional Ecológica e nunca detectamos esse tipo de situação, ou seja, fornecimento de diplomas falsos”, contestou o embaixador por telefone ao G1. As investigações apontaram que ao menos 41 pessoas, todos brasileiros, se inscreveram neste ano na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) para revalidar o diploma de medicina e alegaram ter estudado em instituições bolivianas. No entanto, elas não teriam concluído o curso ou nunca foram alunos das universidades.
Apesar de a Polícia Federal anunciar que o falso diploma tinha a marca da instituição e detalhes específicos de universidades da Bolívia, o embaixador Jerjes Talavera avalia que os documentos foram falsificados por esses supostos profissionais. “Eles [investigados] conseguiram os documentos com assinaturas de várias autoridades do governo, no âmbito financeiro, educacional. Essas pessoas cometeram três delitos, sendo falsificação material, intelectual e exportação de documento falsificado”, pontuou.
Talavera destacou também que na última quarta-feira (16) esteve reunido com autoridades bolivianas no intuito de apurar alguns casos desse tipo registrados na Bolívia. Ressaltou também ter solicitado a investigação da Interpol para os casos.
O embaixador disse também considerar que o intuito dessas pessoas em concluir os estudos ou buscar pela revalidação seria para ingressar no Programa Mais Médicos, do governo federal, o que também foi apontado pela Polícia Federal. “Considero que o programa brasileiro pode ter fomentado a intenção deles em querer obter os diplomas”, pontuou.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que a operação não tem relação com o Mais Médicos, mas defendeu a investigação para evitar fraudes no Revalida. "É uma operação da Polícia Federal que não tem nada a ver com o Mais Médicos. É em cima de estudantes que falsificavam diplomas para poder participar do Revalida", disse o ministro em entrevista na manhã desta sexta-feira ao visitar um centro de saúde na cidade de Samambaia, a 30 km de Brasília.
Padilha disse também que o governo faz uma checagem sobre registros e antecedentes criminais de estrangeiros inscritos no Programa Mais Médicos. "É feita uma checagem antes com a Polícia Federal, que faz todo o acompanhamento. Inclusive se tem algum problema é excluído ou não aceito qualquer tipo de documentação desses profissionais", ponderou. Segundo o ministro, a operação pode contribuir fortemente para que não exista qualquer tipo de fraude ou tentativa de inscrição no programa de profissionais que não sejam médicos.
Investigação
O delegado federal de Cuiabá, Guilherme Torres, responsável pela operação deflagrada nesta sexta-feira, declarou que duas pessoas que não possuíam autorização para exercer a profissão atuavam em unidades de saúde da Bahia e Amazonas. “Detectamos que essas pessoas, ainda que sem registro do Conselho Regional de Medicina (CRM), estavam atuando como médicos em algumas cidades mais distantes dos grandes centros do país”, detalhou. Ainda segundo a PF, as duas pessoas investigadas devem ser interrogadas nesses estados e devem responder por exercício ilegal da profissão.
A UFMT fez contato com três universidades da Bolívia, que confirmaram que entre os inscritos no programa de revalidação, 41 pessoas nunca foram alunos ou não concluíram o curso naquelas instituições. “As pessoas vinham com um diploma falso obtido na Bolívia mediante pagamento. Eles se inscreviam na revalidação de diploma da UFMT e, por não terem estudado e possivelmente iriam reprovar, entravam na Justiça. Eles conseguiam obter até o registro do CRM através de uma nova prova”, completou o delegado.
De acordo com a PF, foi comprovado que a origem da fraude é na Bolívia. Porém, os autores do esquema não foram identificados. O que o delegado afirma ter certeza é que existe participação de funcionários das universidades bolivianas.
Mandados em diversos estados
Os mandados de busca e apreensão contra as 41 pessoas identificadas foram expedidos pela 7ª Vara Criminal da Justiça Federal de Mato Grosso. As buscas , segundo a PF, já foram feitas em Alagoas, Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Rondônia, Rio Grande do Sul e São Paulo.