Desde janeiro de 2011 até o dia 4 de fevereiro deste ano, foram registrados 181 apagões no país, considerando todas as falhas de energia, independentemente do tamanho da área afetada, do período ou da carga interrompida, segundo um levantamento feito pelo Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE).
"Não importa se o apagão afetou apenas alguns estados ou se aconteceu durante 5 minutos. Alguém certamente foi prejudicado", disse ao G1 o diretor do CBIE, Adriano Pires.
Em 2013, foram registrados 45 blecautes com carga de energia interrompida acima de 100 megawatts. Destes, a pesquisa destaca um ocorrido em 28 de agosto, de 10.900 megawatts. Na ocasião, sofreram com a falta de eletricidade Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Bahia e Paraíba.
Em 2012, foram verificados 62 apagões no Brasil, com destaque para o de 26 de outubro, com carga interrompida de 12.900 megawatts, que deixou toda a Região Nordeste no escuro.
Quatro regiões atingidas
Na terça-feira, uma falha em uma linha de energia que liga o Norte ao Sudeste do país provocou falta de luz em todos os estados do Sudeste, do Sul e do Centro-Oeste, além do Tocantins, na Região Norte. Pelo menos 11 estados tiveram o fornecimento de eletricidade comprometido e ao menos 6 milhões de pessoas foram afetadas pelo apagão, segundo estimativas do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Em entrevista coletiva na terça-feira (4), na sede do Ministério de Minas e Energia, em Brasília, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, descartou que a falha esteja relacionada ao aumento do consumo de energia nas últimas semanas, provocado pelo calor.
Pouco depois da entrevista do secretário-executivo, o ONS divulgou em comunicado oficial que oapagão começou após um curto-circuito em uma linha de transmissão no Tocantins.
'Sistema funcionou', diz governo
Zimmermann apontou, durante a coletiva, que não houve "desligamento descontrolado" e que a interrupção no fornecimento de energia foi provocada por um sistema automático que atua na rede de transmissão de energia elétrica e impede que uma falha cause problemas maiores.
"Aparentemente, o sistema funcionou como deveria. Poderia ter acontecido [interrupção no fornecimento de luz] como em outros eventos, como quando apagou o Nordeste todo", disse.
O secretário-executivo se refere ao episódio ocorrido em 28 de agosto do ano passado, quando uma queimada em uma fazenda do Piauí atingiu a rede de distribuição de energia e deixou todos os estados do Nordeste sem eletricidade. Na ocasião, a distribuição caiu de 10 mil megawatts para mil megawatts e deixou no escuro, por algumas horas, boa parte dos municípios da região.
[A falha] Não tem nada a ver com estresse do sistema"
Márcio Zimmermann,
secretário-executivo
do Ministério de Minas e Energia
Zimmermann disse ainda que o sistema de energia brasileiro é “complexo”, conta com mais de 100 mil quilômetros de linhas de transmissão e que falhas como a registrada na terça-feira "ocorrem, apesar de trabalharmos com nível de confiabilidade muito alto".
"[A falha no fornecimento registrada na terça] não tem nada a ver com estresse do sistema", afirmou o secretário-executivo.
Negou risco de desabastecimento
No início da entrevista coletiva, Zimmermann também afirmou que não existe risco de faltar energia no país por causa da falta de chuva e da queda no nível dos principais reservatórios de hidrelétricas.
"Esse aspecto conjuntural agravado [falta de chuva] é um processo que um sistema como o nosso é planejado para lidar", apontou.
Em entrevista à GloboNews, o secretário-executivo disse ainda que o sistema está equilibrado e que "foi planejado para aguentar condições muito piores" que a atual, de pouca chuva.
O discurso de Zimmermann repete o do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que afirmou na segunda-feira (3) que é "zero" o risco de faltar energia no Brasil por conta da queda no nível dos reservatórios.
Recorde negativo
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, afirmou que a afluência (quantidade de água que chega aos reservatórios das hidrelétricas e pode ser transformada em energia) em janeiro é a pior desde 1954 para as regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde estão as usinas responsáveis por 70% da geração de energia do país.
"Em termos de afluência, tivemos um janeiro atípico, muito abaixo da média de longo prazo. Apesar disso, temos um equilíbrio estrutural entre oferta e demanda [de eletricidade]. Temos uma grande quantidade de usinas e uma diversificação que permitem que, mesmo tendo um janeiro ruim em termos de afluência, não tenhamos nenhum problema no fornecimento de energia", disse Tolmasquim.
Veja o que aconteceu em cada um dos 11 estados atingidos na terça-feira:
Espírito Santo
Sete municípios do estado registraram apagão elétrico na tarde de terça. Segundo a Espírito Santo Centrais Elétricas S. A. (Escelsa), as cidades de Nova Venécia, Ecoporanga, Mantenópolis, Barra de São Francisco, Água Doce do Norte, Vila Pavão e Aracruz (apenas o bairro Barra do Sahy) foram atingidas.
Goiás
A Companhia Energética de Goiás (Celg) informou que o apagão atingiu cerca de 300 mil consumidores no estado. Em nota, companhia disse que 50 cidades goianas ficaram sem energia.
Mato Grosso
As Centrais Elétricas de Mato Grosso (Cemat) informaram que 111 mil unidades consumidoras foram vítimas do apagão nacional causado por uma perturbação no sistema. A falha foi registrada às 14h03 (horário de Brasília).
Na capital, Cuiabá, em 3 minutos já começou a ser restabelecido o serviço de energia, mas oONS solicitou desligamento da área em virtude das falhas registradas.
Mato Grosso do Sul
Sete cidades de Mato Grosso do Sul foram afetadas pela falta de energia elétrica. A assessoria de imprensa da Empresa Energética de Mato Grosso do Sul S.A. (Enersul), que atende 74 dos 79 municípios do estado, informou que ficaram sem energia os municípios de Miranda, Bodoquena, Bonito, Aquidauana, Anastácio e Dois Irmãos do Buriti.
Em Campo Grande, 4% da cidade foi afetada. Essas localidades, segundo a companhia, representam 14% da área de concessão.
Minas Gerais
Cerca de 230 mil pessoas em 63 cidades mineiras ficaram sem energia elétrica, de acordo com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). A empresa informou que foram atingidos municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, do Sul, Oeste e Leste do estado e do Triângulo Mineiro.
No Sul de Minas, pelo menos cinco cidades ficaram sem energia entre as 14h e 14h40 de terça. De acordo com a Cemig, houve falha em Guaxupé, Muzambinho, Guaranésia, Monte Belo e Botelhos.
A empresa informou que o problema ocorreu às 14h02 e começou a ser resolvido às 14h48. A Cemig também disse que às 15h58 todos os locais já estavam com a energia restabelecida.
Paraná
O problema deixou sem luz 548 mil consumidores em 61 cidades do Paraná, de acordo com a Companhia Paranaense de Energia (Copel). Esse número representa 13% dos 4,1 milhões de consumidores atendidos pela empresa no estado.
Rio de Janeiro
Aproximadamente 880 mil pessoas ficaram sem luz no Rio de Janeiro, segundo informações das concessionárias Light e Ampla, que atendem o estado.
A Light informou que interrompeu o fornecimento de energia em bairros do Subúrbio e da Zona Oeste do Rio e da Baixada Fluminense, a pedido do ONS.
A falta de energia atingiu os bairros de Bangu, Campo Grande, Guaratiba e Jacarepaguá, na Zona Oeste; Méier, Pavuna, Inhaúma, Irajá, Penha, Cascadura e Madureira, no Subúrbio; e os municípios de Mesquita, Belford Roxo, Queimados e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Rio Grande do Sul
Houve interrupção no fornecimento de luz em mais de 392 mil pontos de pelo menos 73 municípios do Rio Grande do Sul. Os dados são das três mais importantes companhias de energia elétrica e da maior cooperativa de distribuição do estado. Em todos os locais, o desligamento ocorreu por volta das 14h e terminou antes das 16h.
Santa Catarina
A Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina) informou que registrou interrupção no fornecimento de energia em diversas cidades. O desligamento ocorreu em todo o estado e, segundo a empresa, todas as regiões tiveram algum problema pontual.
Semáforo apagado na Zona Oeste de São Paulo
na terça-feira (Foto: André Paixão/G1)
São Paulo
A AES Eletropaulo informou que o problema afetou o fornecimento de energia em cidades da Grande São Paulo (Vargem Grande Paulista, Embu, Diadema e Cotia) e em bairros da capital paulista, atingindo mais de 1,2 milhão de consumidores na capital.
Entre os bairros da capital impactados, estavam: Capão Redondo, Pedreira, Cidade Ademar, Mooca, São Mateus, Vila Prudente, Itaquera, Vila Mariana, Guaianases e Vila Matilde.
O problema em São Paulo chegou também ao Metrô da capital. A ViaQuatro, que opera a Linha 4-Amarela, relata que houve uma "falha no sistema elétrico de tração entre o trecho das estações Paulista e Luz" na tarde de terça-feira. A concessionária informou, às 15h40, que a operação havia sido restabelecida às 15h18.
Tocantins
Segundo a Companhia de Energia Elétrica do Estado do Tocantins (Celtins), o apagão atingiu 95 das 139 cidades do estado. A interrupção do fornecimento de luz durou 4 minutos, entre as 13h03 e as 13h07 (horário local), e afetou 362 mil unidades consumidoras.
Apagões recentes
Além do apagão no Nordeste em agosto do ano passado, houve interrupções de energia na região em setembro e outubro de 2012.
Em 22 de setembro daquele ano, segundo o ONS, um problema nas interligações Sudeste/Norte e Sudeste/Nordeste atingiu o fornecimento de eletricidade em parte do Nordeste.
Em outubro de 2012, outra ocorrência afetou os nove estados da região, entre o final da noite do dia 25 e o início da madrugada do dia 26.