As investigações sobre o aliciamento de jovens em manifestações violentas foram abordadas na entrevista coletiva concedida pela polícia, nesta quarta-feira (11), logo depois da chegada de Caio Silva de Souza ao Rio, como mostrou o Jornal Nacional.
Caio chegou ao Rio pouco antes das 9h. Ele saiu do avião algemado e escoltado por policiais. Depois foi levado para a Cidade da Polícia, onde ficam as delegacias especializadas do Rio, para prestar depoimento, mas não respondeu às perguntas. Apesar da confissão à repórter Bette Lucchese, disse que só vai falar para o juiz.
O chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, afirmou que já existe outra investigação — coordenada pelo setor de inteligência — sobre o aliciamento de pessoas que promovem ações violentas em manifestações.
“Na realidade, o que há são vários inquéritos diferentes. Este fenômeno é um fenômeno complexo, que acontecem diferentes pontos do estado. Nós podemos ter em determinado ponto uma ação que tenha uma motivação de um determinado segmento num outro evento. Nós podemos ter fatos criminosos provocados por uma motivação diferente. E em todo este cenários, nós podemos ter pessoas que estão ali de fato movidas por uma ideologia. Isso tudo está sendo apurado há bastante tempo. Isso é um processo, isso não para e está sendo feito pela inteligência”, disse Veloso.
Aliciamento
Em uma entrevista coletiva, Fernando Veloso, e o delegado Maurício Luciano falaram sobre o que motivou a abertura das investigações sobre aliciamento.
“A mera análise das imagens já nos induz no sentido de que as pessoas que estão ali, de alguma forma, estão com as vontades conjugadas. Não parecem pessoas que estão aleatórias, cada um faz o que quer e vai embora. Então, a análise dessas imagens já é uma leitura que a inteligência faz que indica que as pessoas não estão soltas, isoladas, como querem nos fazer crer”, disse o chefe da Polícia Civil.
“Esse inquérito foi para esclarecer essa circunstância. Mas há investigações no sentido de esclarecer toda essa cumplicidade, se há cumplicidade. A quem interessa, a quem integra, o que cada um faz. Qual o papel de cada um. Se é uma organização, se não é. Isso vai ser objeto de investigação”, afirmou Mauricio Luciano.
R$ 150 por protesto
Durante uma entrevista por telefone à GloboNews, o advogado Jonas Tadeu voltou a dizer que Caio Silva de Souza recebia dinheiro para participar de manifestações violentas.
“Esse menino de ontem disse e um policial ouviu: eu participava das manifestações porque eu queria complementar o que eu ganhava no hospital que eu trabalho. Perguntei: 'Quanto você ganhava?". Ele falou: 'Por cada manifestação ganhava R$ 150 reais'. Essa remuneração não é para participar de forma pacífica. Os jovens que participam da passeata de forma pacífica não recebem remuneração”, disse o delegado.
O advogado afirmou que o outro cliente dele, Fábio Raposo, também foi pago, mas não revelou quem fazia o aliciamento. “Essa forma de aliciamento se dá por outros ativistas, que são mais próximos desses organismos”, disse Tadeu.
O advogado Jonas Tadeu disse ainda que Caio Silva de Souza chegou a ganhar equipamentos e transporte antes de ir para os protestos. “Esse menino aqui muitas vezes foram buscar na comunidade em que ele mora, mandaram transporte para buscar jovens para participarem de manifestações dessa natureza. E fornecem para ele câmera de gás, fornecem pra ele os equipamentos necessários pra uma verdadeira guerra”, disse.
Na entrevista coletiva, a polícia disse ter imagens de Caio Silva de Souza em outras manifestações, participando de ações violentas. Em uma delas, ele aparece dentro da Central do Brasil, com um pano preto em uma das mãos. Em outra, da TV Bandeirantes, ele deixa a estação segurando o pano. Em seguida, se envolvem em uma briga. Em fotos tiradas no dia da manifestação, momentos antes de o cinegrafista ser atingido, Caio de Souza tem um pano preto amarrado na cabeça.
Inquérito
Segundo o delegado que investiga a morte do cinegrafista Santiago Andrade, a falta de uma confissão oficial de Caio Silva de Souza nada muda a situação dele. Maurício Luciano pretende concluir e entregar o inquérito à justiça até sexta-feira (14).
Caio Silva de Souza e Fábio Raposo estão indiciados por homicídio doloso qualificado pelo uso de artefato explosivo e crime de explosão. Se condenados, cada um pode pegar 35 anos de prisão.
“A meu juízo, quem deflagra um rojão treme-terra, de vara, contra a multidão — e parece que o alvo eram os policiais — tem o dolo, pelo menos eventual, de causar morte”, concluiu o delegado Mauricio Luciano.