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Sexta - 14 de Fevereiro de 2014 às 09:41
Por: Adamastor Martins de Oliveira

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Divulgação

Maior vencedor da história das Copas e único país a participar de todas as edições do torneio, o Brasil já carrega há décadas a fama de ser o país do futebol. E, como sede do Mundial neste ano, é considerado por muitos o favorito ao título.

Mas para o representante de uma das maiores conquistas da equipe canarinha, o futebol do time comandado pelo técnico Luiz Felipe Scolari está em decadência. Amarildo, o atacante que teve a difícil e honrosa missão de substituir Pelé na Copa do Mundo de 1962, não vê a seleção brasileira de hoje forte o suficiente para ganhar o Mundial e acredita que Alemanha ou Espanha estão mais bem preparadas para levantar a taça no dia 13 de julho no Maracanã.

Em entrevista especial à BBC Brasil para falar sobre a conquista de 1962, Amarildo, que está com 74 anos, fez comparações entre o time do qual fez parte e este que vai disputar a Copa deste ano no Brasil. "A seleção de hoje está em baixa, com muitas dúvidas ainda a serem resolvidas, e muitos problemas. Hoje ninguém sabe ainda qual time disputará a Copa", disse.

"Passamos muitos anos como melhor futebol do mundo, agora temos que voltar a ser".

Amarildo era reserva do time que foi ao Chile para disputar o bicampeonato em 1962, mas com a lesão sofrida por Pelé logo no segundo jogo do Mundial, o atacante botafoguense acabou ficando com a vaga.

Substituir o maior jogador de todos os tempos não seria tarefa fácil, mas Amarildo tirou de letra e estreou logo fazendo os dois gols da vitória por 2 a 1 contra a Espanha que garantiu o Brasil na segunda fase da Copa. Mas ele explica a tamanha "facilidade" com que substituiu Pelé com uma palavra: equilíbrio.

"A força daquela seleção era essa. Qualquer jogador que entrasse, não mudaria tanto, era um time muito equilibrado", conta. "No time de agora, escolher é difícil, tem que ter uma cabeça muito inteligente."

Leia abaixo a entrevista:

BBC Brasil: Em 1958, o Brasil conquistou sua primeira Copa, e o mundo passou a respeitar a camisa da seleção. O que o título de 1962 representou?

Amarildo: Representou a confirmação de que o Brasil estava, naquela época, se transformando no melhor futebol do mundo. Aquela foi uma das melhores seleções de todos os tempos e demonstrou que o Brasil ainda poderia adquirir outros triunfos, como realmente aconteceu. O símbolo esportivo mundial era o Brasil naquela época. E o Brasil ficou conhecido por aquelas duas Copas como uma força. Agora estamos em decadência, precisamos fazer retornar isso.

BBC Brasil: O Brasil está em decadência?

Amarildo: Os títulos de 1958 e 1962 mostraram ao mundo que o Brasil era um celeiro. Essa seleção conquistou muita coisa, ela se manteve, o que não acontece agora. Nós estamos em baixa, com muitas dúvidas ainda a serem resolvidas, e muitos problemas a serem resolvidos. Esse ano vai ser muito difícil para o Brasil conquistar esse título.

BBC Brasil: O senhor não considera o Brasil favorito ao título esse ano?

Amarildo: Eu não considero o Brasil favorito, eu vi seleções preparadas, como a Alemanha, a Espanha, a Itália. Acho que o Brasil não é favorito, acho que tem muitas outras seleções. Nós temos mais dúvidas do que certezas. Quando as dúvidas são mais evidentes é porque tem alguma coisa que não vai bem.

BBC Brasil: Quais são os problemas da seleção atualmente?

Amarildo: Antigamente, os nossos jogadores podiam resolver uma partida individualmente. Hoje nós só temos o Neymar com essa característica. E será a primeira Copa do Neymar, a experiência dele não é muito vasta, acho que não vai bastar contar somente com ele. Acho que o Brasil tem ainda muita coisa para ser resolvida até a Copa. Você vê que se você perguntar para os torcedores brasileiros qual é a seleção do Brasil, garanto que nenhum deles vai te dar uma resposta exata. A duvida não é somente nossa.

BBC Brasil: Falando daquele time de 1962, você teve uma "missão impossível" naquela Copa, que foi substituir o Pelé. Como foi lidar com essa pressão?

Amarildo: Eu não senti pressão, a minha vontade de jogar era tão grande, que eu me senti feliz. Não pela contusão do Pelé, claro, porque ele é um jogador indispensável. Mas a minha vontade de jogar era tanta, que eu não pensei em nada. Graças a Deus ninguém se lamentou da ausência do Pelé porque o Garrincha cresceu mais ainda em campo, ele tinha mais espaço para jogar. Foi uma mexida tática que desmontou o adversário, então foi uma coisa até benéfica a saída do Pelé. Não tivemos nenhum dano e ganhamos o campeonato com autoridade.

BBC Brasil: Como foi sua relação com o Pelé depois da lesão dele?

Amarildo: O Pelé foi admirável. Eu me recordo que quando nos conversávamos, ele falava isso: "jogue como você joga no Botafogo", e isso me deu mais força ainda. Depois do jogo contra a Espanha, ele entrou no vestiário, eu ainda estava tomando banho, e ele me abraçou forte, uma demonstração de amizade, de alegria, ele viu que eu fiz os dois gols, que eu não deixei cair a peteca naquele momento. Ele ficou contente por ver que o time teve um rendimento como estava tendo antes, não teve nenhuma queda. Então mesmo ele não jogando, ele estava sempre me incentivando.

BBC Brasil: Qual foi o maior desafio do Brasil na Copa de 1962?

Amarildo: Sem dúvidas, foi o jogo com a Espanha (terceiro da primeira fase). Porque o jogo decidia a permanência de um e a eliminação do outro. Foi um jogo que também decidia o meu futuro, porque estrear no lugar do Pelé e ser eliminado da Copa seria uma desgraça na minha carreira. Mas deu tudo certo, eu fiz os dois gols e a gente ganhou. Se a Espanha tivesse vencido, não tenho dúvidas de que eles seriam campeões.

BBC Brasil: E qual é o desafio dessa seleção de 2014?

Amarildo: Passamos muitos anos como melhor futebol do mundo, agora temos que voltar a ser. O desafio em 2014 é que os nossos jogadores demonstrem essa confiança, que eles demonstrem que nós estamos errados, que o Brasil é uma seleção que pode ganhar o campeonato. Espero que o Brasil possa ressurgir nesse mundial para apagar aquela mancha negra que existe no Maracanã por causa de 1950. Desde então, nós vemos só nuvem negra no céu, apesar de ele estar estrelado.





Fonte: BBC Brasil

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