Eleições em todas as "cinco frágeis" economias emergentes - Brasil, Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia - no ano que vem, somadas às complicadas situações da Síria e do Irã, vão tornar traiçoeira a tarefa dos investidores de evitar os riscos dos mercados em desenvolvimento depois de um complicado 2013. A suspensão do estímulo monetário nos Estados Unidos vai dar o tom para o novo ano, principalmente para as grandes economias em desenvolvimento que dependem dos fluxos de investimento estrangeiro.
Investidores de empresas, bancos ou outras instituições, fechando negócios nos mercados emergentes, podem comprar seguros para a cobertura de riscos específicos como violência política, expropriações ou renegociações de contratos por governos ou empresas locais. O tamanho do risco político no mercado de seguros aumentou 33% para um recorde de US$ 100 bilhões no ano passado, de acordo com informação divulgada neste mês pelo Banco Mundial, que espera um crescimento parecido neste ano.
Investidores temem a situação no Oriente Médio e no norte da África, os riscos de expropriação na América Latina, entre outros. A decisão nesta semana do Federal Reserve, o banco central americano, de reduzir a impressão de moeda que tem alimentado a demanda por investimentos de risco deve, de acordo com as expectativas, afetar o crescimento nos mercados emergentes no ano que vem, com Brasil, Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia vistos como especialmente vulneráveis a uma súbita retirada de recursos estrangeiros.
Com eleições previstas nas "cinco frágeis" economias no ano que vem, a tendência é de que os políticos gastem recursos, em vez de adotar medidas mais cautelosas. "Esses são países onde os mercados gostariam de ver déficits pequenos. As eleições tornam tal meta difícil, pelo menos em relação ao orçamentário", afirmou Charles Robertson, economista-chefe do Renaissance Capital. "Há muito potencial para que os mercados fiquem agitados nestes países em 2014."
Com a redução do programa de estímulo dos EUA, os políticos vão estar atentos para a reação dos eleitores em relação a empregos e serviços. A riqueza gerada pelo recente crescimento rápido resultou em demandas populares para além das necessidade básicas, dizem analistas políticos, um cenário visto tanto na Primavera Árabe quanto nos protestos na Ucrânia.
"A frustração que foi vista nas ruas é movida por uma classe média que começa a se afirmar politicamente", disse Christopher Torrens, diretor do centro de análises de risco Control Risks. Para ele, o ano que vem vai ser desafiador nesse sentido. Antes preferida, a Turquia se tornou um problema aos investidores no espaço de algumas semanas, depois dos protestos em Istambul. Os brasileiros protestaram por melhores serviços públicos e os ucranianos querem laços mais próximos com a União Europeia. Brasil e Turquia terão eleições presidenciais em 2014, enquanto África do Sul e Índia realizarão eleições parlamentares. A Indonésia tem ambas.
Na Síria, os três anos de revolta contra o presidente Bashar al-Assad sugerem aos investidores que a Primavera Árabe ainda não acabou, principalmente se a Tunísia e o Egito continuarem instáveis. No continente africano, eleições na África do Sul e, em 2015, na Nigéria preocupam. "As expectativas são de uma piora nas políticas sul-africanas no primeiro semestre e nas políticas nigerianas no segundo", declarou o diretor da consultoria de risco político Eurasia, Philippe Pontet.
Em relação ao Irã, o acordo nuclear provisório com as potências mundiais no mês passado aumenta os riscos no Oriente Médio, de acordo com François Savary, chefe de investimentos de um banco suíço. "Não gostamos do que está acontecendo no Oriente Médio, a reação da Arábia Saudita à política externa dos Estados Unidos", disse ele. O governo saudita não gostou de os EUA terem conversado secretamente com o Irã antes do acordo nuclear.
Savary está entusiasmado com os mercados emergentes como um todo para o próximo ano, mas está evitando investimentos no Oriente Médio, incluindo Dubai, por causa dos riscos potenciais. Mas a incerteza pode oferecer oportunidades. Na Índia e no Brasil, a oposição é vista como mais amigável em relação ao mercado. "(As cinco frágeis) também podem ser os mercados mais lucrativos por causa da potencial volatilidade, disse Robertson.
O co-vice-presidente de investimentos na gestora de fundos de mercados emergentes Charlemagne Capital, Julian Mayo, elogiou as medidas de reforma financeira recentemente tomadas pela China. "Na China, o risco político claramente caiu. No Brasil e na Índia, as coisas estão melhores do que há seis meses."