Pouco tempo depois de atravessar as portas da Casa de Detenção Patrícia Acioli, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio - onde passou 16 dias preso injustamente -, o ator Vinícius Romão de Souza, de 26 anos, conversou com jornalistas no play do prédio onde mora, no Méier, na Zona Norte da cidade. Cercado por vizinhos e amigos e visivelmente emocionado ao lado do pai, o tenente-coronel da reserva do Exército, Jair Romão de Souza, de 64 anos, o rapaz descreveu a sensação de enfim retomar a liberdade.
- Estou muito feliz de ter sido solto, claro. De poder rever os amigos e familiares. Mas existem muitos outros Vinicius lá dentro - disse o ator, acrescentando:
- Tem muita gente que com certeza é inocente, ou que cometeu um crime pequeno e mesmo assim está lá. É complicado.
- Fiquei numa cela onde havia mais 14 pessoas. Tinha gente que foi presa por tráfico de drogas, por Maria da Penha (violência doméstica)... Assim que entrei perguntaram qual a minha facção. Eu disse que era neutro e fiquei numa cela de pessoas sem facção. Na cela existem três beliches, seis camas sem colchão. Eu dormi no chão, com papelão - revelou.
Quatro vezes por dia, os chuveiros eram ligados e o banho durava 10 minutos. Além do banho, o tempo também era utilizado para encher copinhos de guaraná natural, únicos recipientes que tinham para guardar água. É assim que os presos se hidratam na Casa de Detenção Patrícia Acioli, em São Gonçalo, na Região Metropolitana.
- A lição que tirei foi a de aproveitar cada minuto. Senti falta de coisas como abrir a geladeira e beber água por exemplo. Lá, eu bebia água do banho. Ressocialização seria alguém conseguir sair de lá melhor do que quando entrou, só que isso acaba não acontecendo. Poderia ter uma biblioteca, palestras... Mas lá dentro as pessoas só têm ódio. É desumano - contou o rapaz.
Para passar o tempo, os 15 homens que compartilhavam a cela fizeram um dominó e um jogo de damas de papel. Mas segundo o ator, mesmo para conseguir papel e lápis foi difícil.
- O que me emociona nisso tudo é o apoio que me foi dado. Pessoas que não via há muito tempo compraram a minha causa. Todas essas pessoas que estão aqui (em casa) para me receber. Tem gente que estudou comigo no primário e está aqui. Quando eu estava lá dentro, eu orava muito e sabia que aqui fora vocês também estavam. E isso me passava tranquilidade. Eu sabia que estava acontecendo alguma coisa aqui fora, mas não tinha acesso e não sabia ao certo o quê.
Para o futuro, planos.
- Eu ainda vou fazer uma pós-graduação e decidir se continuo com a carreira de ator. O que quero, neste momento, é voltar logo a trabalhar. Tenho saudade do meu trabalho como vendedor. Eu fui o único negro, num grupo de 17 vendedores contratados como temporários. E fui o único a ser efetivado. É disso que falo.
Ainda na saída do presídio, Vinicius garantiu que perdoa a vítima de assalto que fez o seu reconhecimento equivocadamente. Já a copeira Dalva da Costa Santos, de 51 anos, falou com o EXTRA pelo telefone cerca de uma hora após o jovem ser solto. Emocionada, a mulher disse que não querer se expor para não prejudicar seu trabalho - ela é funcionária de uma empresa que presta serviços para o Hospital Pasteur, também no Méier. Dalva pediu desculpas ao jovem e também ao pai dele, o tenente-coronel da reserva do Exército, Jair Romão de Souza, de 64 anos.
- Peço perdão mil vezes ao Vinícius. Estou orando sem parar por ele. Para Deus estar guardando ele, o coração dele. E que ele consiga superar tudo isso o mais rapidamente possível. No que precisar de mim para resolver questões da Justiça, eu, como mãe de família, vou estar sempre à disposição - disse ela, que é evangélica e mãe de dois filhos.