Carne bovina é levada para açougues sem qualquer cuidado (Foto: Genival Moura/G1)
A carne bovina comercializada no município de Porto Walter (AC), no interior do Acre, chega à mesa da população local sem qualquer condição de higiene. A pequena cidade não conta com um abatedouro e os animais são mortos com extrema crueldade, a marretadas ou alvejados a tiros de espingardas dentro das fazendas. Em seguida são esquartejados a golpes de machado e transportados em barcos de madeira e carros de boi até os açougues.
Enquanto o G1 esteve na cidade, um dos criadores chegou ao porto do Juruá, rio que banha o município, transportando um boi de aproximadamente 260 quilos. A carne ainda com o couro permaneceu exposta ao sol durante o percurso de mais de duas horas. “É sempre assim, a gente mata, separa os quartos e tenta trazer a carne o mais rápido possível porque a viagem é longa. Sempre foi dessa forma aqui em Porto Walter, não tem frigorífico não tem nada”, diz o criador Anazildo Araújo da Silva, de 35 anos.
Carne fica exposta ao sol sem acondicionamento
adequado(Foto: Genival Moura/G1)
No porto, a carne foi retirada do barco e transferida para um carro de boi por Anazildo e outros homens trajando bermudas e sem usar luvas ou qualquer outro equipamento de proteção, aumentando o risco de contaminação.
O pecuarista Altenísio Oliveira de Souza, de 32 anos, que é também proprietário de um açougue não esconde que abate o gado dentro dos campos. “Nós somos obrigados a fazer isso, primeiro porque não temos matadouros e nem acesso às propriedades. As estradas ficam intrafegáveis nessa época chuvosa. A carne perde qualidade por ficar exposta à chuva e ao sol, sem contar que suja bastante e causa até prejuízos na hora de fazer a limpeza”, explica.
Os consumidores do município já se acostumaram com a forma arriscada de transporte da carne até os pontos de venda, como é o caso da recepcionista, Flavia Regina Pinheiro, de 25 anos. “Nós já estamos acostumados com essa rotina é do jeito que vocês presenciaram ou até pior, porque já vi pessoas transportando quartos de boi em cima de cavalos até os açougues. Eu não vou negar que tenho medo de pegar alguma doença, mas não temos opção o jeito é comprar e consumir”, diz ela.
Homens retiram carne de dentro de carroça (Foto: Genival Moura/G1)
Várias doenças podem ser transmitidas através da carne contaminada é o que alerta o médico Marcelo Lima do Hospital do Juruá, em Cruzeiro do Sul (AC). “Várias doenças infectocontagiosas podem ser transmitidas através da carne, entre elas, a intoxicação alimentar, tétano, leptospirose se passar por algum lugar que tenha contato com a urina do rato, a toxoplasmose que pode provocar problemas no pulmão e infecções nos olhos e uma série de outras doenças. Por isso, a importância de observar todas as condições de higiene e comer a carne sempre bem cozida”, ressalta o médico.
Procurado pelo G1, o coordenador da Vigilância Sanitária municipal, Claudio Ovídio, se negou a prestar qualquer tipo de informação sobre a falta de fiscalização e higiene da carne que vai para mesa dos moradores de Porto Walter.
Em 2013, segundo o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idaf) pelo menos 12 animais bovinos morreram de raiva animal no município. Os pecuaristas perderam outras dezenas de cabeças de gado com a mesma suspeita, mas não tiveram a confirmação.
O agente de defesa animal, Alfredo Sales, único representante do Idaf em Porto Walter, garante que o surto da doença foi controlado, assim que saiu o diagnóstico. Ele afirma também que cerca de 96% do rebanho local é vacinado. “Com essa questão sanitária nós não temos nada a ver, agora temos um acordo com os proprietários de casa de carne para que eles só recebam animais de criadores que apresentem a guia comprovando a vacinação”, conclui.