Os críticos de campeonatos estaduais têm no Campeonato Mato-grossense um prato cheio para defender a extinção - ou pelo menos uma profunda reformulação - destes torneios. Após as desistências de Vila Aurora e Sorriso, a primeira fase terminou com o Cacerense classificado para as quartas de final mesmo não tendo marcado nenhum gol e conquistado apenas um ponto em seis jogos na primeira fase. A Federação, agora, tenta explicar a bagunça.
O fato inusitado se dá devido à não participação das duas outras equipes, que decidiram desistir da competição nas vésperas do começo do torneio, há pouco mais de um mês. Assim, com o consequente cancelamento de jogos e o confuso regulamento û que em primeiro momento dividiu 11 times em duas chaves, sendo que oito garantiriam vaga fase seguinte û, todos os quatro times do grupo A sabiam, antes mesmo de o campeonato começar, que estariam nas quartas de final.
Mas as bizarrices do torneio não param por aí. A competição, aliás, poderia ser considerada a mais equilibrada do Brasil, mas não pela igualdade entre os times: a diferença entre o rebaixamento e a classificação para a fase seguinte foi de apenas quatro gols, tendo o Cacerense, de ataque nulo, curiosamente passando de fase pelo saldo de gols (!). Com aproximadamente 5,5% de aproveitamento, o time de Cáceres só não caiu porque o Mato Grosso, que também terminou a primeira fase com um ponto, teve pior saldo e acabou rebaixado. Por estar no grupo B, que tinha um participante a mais do que a chave oposta, o Mato Grosso fez dois jogos a mais que o Cacerense.
Representantes do Cuiabá e do Luverdense mostram insatisfação com o modo como o torneio foi realizado, mas preferem não comprar briga com a Federação Mato-grossense de Futebol (FMF) por receio de punições. Maior prejudicado, presidente do Mato Grosso se mostra frustrado com o resultado final da primeira fase. Ezequiel Rosa Gomes reclama do posicionamento da FMF e critica as atitudes do presidente licenciado Carlos Orione.
“O problema daqui é que a Federação infelizmente só toma atitudes arbitrárias. Os clubes votam uma coisa e eles empurram outra diferente goela abaixo. O estatuto é escondido a sete chaves, o colégio eleitoral também ninguém conhece. Este ano é que conseguimos o estatuto, mas o colégio eleitoral nós até agora não sabemos quem é. Como vamos vencer um homem desse se não sabemos quem está votando?,” protesta, referindo-se à decisão de não balancear o número de times nas duas chaves após a desistência do Vila Aurora.
O presidente licenciado, que tem o apelido de ‘Barão‘ nos bastidores do futebol, ironizou a situação e optou por não se pronunciar. O dirigente que atualmente o substitui no comando da FMF, Luiz Wellington da Silva, preferiu tentar esclarecer a confusão.
“A questão foi que as duas equipes abandonaram já próximo de o campeonato começar, então não daria pra mudar o regulamento. Não tinha data para fazer. Mesmo porque os times já estavam montados. Não teria como mudar”, afirmou, argumentando que neste caso o Estatudo do Torcedor não permite mudanças após a divulgação do formato do torneio. O mandatário ainda responde a Ezequiel Rosa na sequência: “Um time que joga oito partidas e não ganha nenhuma não tem o que reclamar, ele não tem direito”.
Sobre as mudanças do torneio para o próximo ano, Luiz Wellington chama a atenção para o fato de o Estatudo do Torcedor só permitir alterações no regulamento dos campeonatos a cada dois anos. Ainda assim, promete que a FMF analisará as opções e tomará a decisão junto aos times.
“Vamos fazer a segunda divisão subindo quatro clubes e, junto com os oito que permaneceram, ficariam 12 em 2016. A ideia é aproveitar o legado da Copa do Mundo”, afirmou, referindo-se à Arena Pantanal, que receberá partidas do mundial.
Entenda o caso - Em março do ano passado, o jogo entre Vila Aurora e Luverdense precisou ser cancelado por falta de ambulância no local de jogo. A FMF declarou a partida como cancelada, o que resultou na vitória automática do Luverdense por 3 a 0. O revés culminou no rebaixamento do Vila Aurora.
Em setembro, o clube mandante chegou a ser absolvido no STJD, conseguindo permanecer na primeira divisão deste ano, mas desistiu de jogar o Campeonato Mato-grossense dias antes do começo do torneio. Como os 11 clubes tinham sido previamente divididos em duas chaves e o time estava na chave menor, a desistência causou desequilíbrio no número de participantes nos dois grupos.
Para tentar balancear, representantes dos dez times restantes se reuniram para discutir a transferência de um dos participantes da chave B para a A, mas a Federação vetou e mandou que o torneio fosse disputado com seis times em um grupo e quatro em outro. Como consequência, todos os participantes do grupo A estavam automaticamente classificados para as quartas de final e o Cacerense, mesmo com péssima campanha, foi um deles.
Federação revela preocupação da CBF com futuro da Arena Pantanal
Mesmo com a empolgação crescente à medida que a Copa do Mundo se aproxima, o torcedor estreita os olhos quanto ao tão discutido legado que ficará após a competição. A maior parte da preocupação gira em torno do destino das modernas arenas construídas em capitais que não têm futebol de nível nacional. Em Cuiabá, pelo menos, a Federação Mato-grossense de Futebol (FMF) não quer decepcionar o presidente da CBF, José Maria Marín, e parece já ter a receita para que a Arena Pantanal não vire um ôelefante brancoö.
“Estamos programando porque o presidente da CBF esteve aqui e nos questionou sobre como faríamos o estadual, porque, se teremos um bom estádio aqui, de Copa do Mundo, não pode ter um campeonato só com dez times,” explicou Luiz Wellington da Silva, esclarecendo que o regulamento do estadual do Mato Grosso deve sofrer alterações nos próximos anos.
O formato do torneio tem criado polêmica no estado. Divididas em duas chaves na primeira fase, os 11 clubes disputariam oito vagas nas quartas de final da edição deste ano. Porém, devido à desistência de duas equipes dias antes de a competição começar, houve cancelamento de jogos e um desequilíbrio no número de times nos dois blocos. Como consequência, todos os participantes da chave A jogaram sabendo que, independentemente dos resultados, estariam classificadas para a fase seguinte.
Como o regulamento do Campeonato Mato-grossense foi alterado neste ano para acolher o Vila Aurora, que no ano passado ganhou no STJD o direito de disputar a competição, o formato visando o melhor aproveitamento da Arena Pantanal só poderá ser reformulado em 2016, já que o Estatuto do Torcedor não permite duas alterações em período mais curto.
“Temos que aproveitar o legado da Copa do Mundo”, lembrou Luiz Wellington.
“Mas só podemos mudar (o regulamento do campeonato) a cada dois anos, então a ideia fazer a segunda divisão subindo quatro times. Mas temos que discutir isso com todos os clubes, porque não faço campeonato para a federação, e sim para as equipes”, garantiu o mandatário da FMF.
De qualquer forma, os organizadores do Campeonato Mato-grossense devem encontrar dificuldades para lotar o novo estádio, que terá capacidade de 44 mil pessoas após a Copa. A média de público da edição passada do estadual, por exemplo, foi de 609 pagantes por jogo, número que, em todo o País, só é melhor que os de Tocantins, Rondônia e Acre.
A inauguração da Arena Pantanal está marcada para o próximo dia 2, quando o Mixto-MT recebe o Santos pela partida de ida da primeira rodada eliminatória da Copa do Brasil. Durante a Copa do Mundo, o estádio recebe quatro partidas da fase de grupos, são elas: Chile x Austrália; Rússia x Coreia do Sul; Nigéria x Bósnia; e Japão x Colômbia.