Indícios de suposta prática de aborto em uma adolescente levaram o médico Orlando Alves Teixeira à prisão novamente nesta quarta-feira (19). Ele atuava em Barra do Garças, a 516 km de Cuiabá, em uma clínica particular e havia sido detido pelo mesmo crime no ano passado, mas conseguiu a revogação da prisão logo depois. Porém, com a suspeita desse novo aborto, ocorrido no mês passado, teve a prisão decretada pela Justiça, a pedido do Ministério Público Estadual (MPE).
O advogado do médico disse ao G1 que o cliente não cometeu o crime e que a denúncia teria partido de outro médico que seria desafeto dele. "Conversei com ele ontem e ele disse que não é responsável pelo aborto", afirmou Paulo Sillas Lacerda. Ele alegou que o cliente havia atendido a adolescente e constatado que ela estava grávida. Depois, ela teria retornado à unidade com uma infecção. "Como ele não podia fazer cirurgia, a encaminhou para o Pronto-Socorro, onde retiraram o útero dela", argumentou. Ele informou que irá recorrer da decisão que determinou a prisão, mas que antes vai se inteirar do teor do processo.
O delegado Joaquim Leitão, que investiga o caso, disse que foram realizadas buscas na clínica e no carro do médico. "Encontramos ferramentas que comprometem o médico", afirmou. Ele disse ainda que a adolescente, suposta vítima do crime, já foi ouvida. No depoimento, junto com a mãe dela, ela teria confirmado o aborto. "A vítima e outras pessoas confirmaram os indícios", disse.
Em depoimento, a adolescente contou que estava ciente da gravidez e que, de forma voluntária, procurou o médico com a intenção de interromper a gestação. Para isso, alegou ter combinado o valor de R$ 10 mil pelo procedimento, sendo que R$ 2 mil foi dado na entrada do 'serviço'. "No dia 27 de fevereiro passado se dirigiu a clínica, de propriedade do denunciado, onde foi sedada e posteriormente sentiu que algo frio era introduzido em sua vagina. Nos dias seguintes teve sangramentos e passou muito mal, retornando à clínica por três vezes, sendo medicada pelo acusado", diz trecho do depoimento.
Por conta do agravamento do quadro, a adolescente foi levada por familiares ao hospital municipal de Barra do Garças, onde foi submetida a exames de urgência e a uma cirurgia. Durante o procedimento, os médicos constataram que ela estava com uma séria infecção uterina, decorrente de perfuração da parede do útero, promovendo ainda a extração da trompa e do útero.
O delegado pontuou que está sendo avaliada a possibilidade da adolescente também ser responsabilizada pelo aborto. Segundo ele, o suspeito ainda não prestou depoimento. "Decidimos ouví-lo ao final do inquérito", afirmou.
Na decisão que determinou a prisão do acusado, o juiz Wagner Plaza Machado Junior, da 2ª Vara Criminal de Barra do Garças destacou que laudos médicos atestaram que houve interrupção da gravidez, bem como que a adolescente teve infecção generalizada e extração de órgãos decorrentes do procedimento, bem como necessitou de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O médico foi conduzido para a cadeia pública do município.