Tony Ribeiro/MidiaNews
Lixo, moscas, pombos e suas fezes, água escassa para beber e tomar banho, muito calor em dias quentes, muito frio nos dias mais amenos e goteiras que chegam a inundar o chão nos dias de chuva. Há quase quatro meses, 28 famílias têm convivido com essa realidade no ginásio Abdão Profeta, no bairro Jardim Glória II, em Várzea Grande.
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Leidiane: esperança de receber chaves na próxima sexta-feira (28) |
Todas tiveram suas casas – muitas construídas por eles próprios – derrubadas no bairro Jardim Esmeralda pela Prefeitura por cumprimento de um mandado de reintegração de posse. A área seria de uma empresa privada.
O terreno em questão, no entanto, está abandonado, com mato tomando conta e, segundo moradores da região, com diversos assaltos, desmanche de automóveis e de venda e uso de entorpecentes.
Enquanto isso, as famílias retiradas do local aguardam desde 6 de dezembro, quando foram colocadas no Ginásio, pela entrega das chaves de novas residências.
“Segundo a Prefeitura, as chaves serão entregues na sexta-feira (28) e com essa esperança que a gente tem vivido”, disse a lavadeira Leidiane Nascimento, 21 anos.
Leidiane, com dois filhos pequenos, um de 1 ano e sete meses e outro de cinco meses, foi obrigada a paralisar as atividades que dão sustento à casa, uma vez que a água é para uso restrito.
A jovem tem contado com a ajuda de amigos, parentes e, quando possível, do poder público.
“Durante esse tempo, eles deram ‘sacolão’ umas três vezes e a água pra tomar banho vem pelo caminhão pipa. A gente ganhou um filtro também, mas a qualidade da água pra beber não é boa”, explicou.
Ainda que fornecida pelo município, a água para o banho das famílias também é escassa. No banheiro feminino, por exemplo, há dois barris de água e apenas um box com chuveiro.
O local também não está em condições adequadas para a quantidade de crianças e mulheres: fede e está sujo.
Muita esperança
Tony Ribeiro/MidiaNews |
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Rigoni: afastado das atividades, pedreiro foi único a não ser sorteado para receber casa |
“Vizinho” de Leidiane está o pedreiro David Rigoni, 47 anos. O pequeno espaço destinado à família abriga a esposa de Rigoni e mais três filhos.
Aposentado do INSS devido acidente no dia do despejo, quando tentou retirar umas telhas de sua casa e acabou caindo, machucando o braço direito, o pedreiro afirmou ao site que a situação é lamentável.
“A situação é caótica e, sendo bem franco, a gente tenta viver com esperança, mas é difícil. Demorei pra construir minha casa e eles vão em um dia e destroem tudo. E o pior: a casa que a gente vai receber nem sei se vale tudo que vamos pagar”, disse.
Apesar de se dizer “esperançoso”, Rigoni foi o único dentre as 28 famílias a não ter a aprovação para receber as chaves. Segundo ele, o problema é da renda antes de sua aposentadoria ocorrer.
“Meu rendimento caiu com meu afastamento, mas eles [o município] não entenderam a situação e é como se eu ganhasse mais, mesmo não ganhando”, explicou.
O pedreiro também reclamou da falta de interesse do poder público.
“Desde que estamos aqui, nem o prefeito e nem os vereadores pisaram aqui. É como se a gente tivesse chegado no último nível possível do ser humano. Como se a gente nem fosse ser humano”.
Outro lado
O secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação de Várzea Grande, Tarciso Bassan, foi procurado pela reportagem para comentar o assunto, porém não atendeu aos telefonemas.