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Saúde
Quarta - 26 de Março de 2014 às 05:43

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Depois de nove meses de espera, o momento mais aguardado para os pais é aquele no qual eles podem conhecer o rosto de seus filhos, tocar e entrar em contato com aquela criança que esteve protegida na barriga da mãe durante toda a gestação. Para muitos pais, esse é o momento no qual começa a se criar o vínculo com o recém-nascido. Para outros, a experiência acaba sendo adiada.

Algumas crianças precisam de cuidados especiais logo depois que nascem. Seja por problemas de saúde, no parto, na gestação. Para se recuperarem e irem bem para casa, alguns bebês precisam passar um tempo pela UTI do hospital. E nesse momento, não é possível um contato muito próximo com os pais. Por problemas no parto, o filho de Carlos Vinícius da Silva, Heitor, precisou ir para a UTI Neonatal do Hospital Estadual Rocha Faria, em Campo Grande, no Rio de Janeiro, logo após o nascimento.

Ainda na incubadora, Carlos foi incentivado pela enfermeira a ter mais contato com o filho. “Só pude tocá-lo com a incubadora. Ela dizia que era importante. Eu não acreditava muito que faria diferença para ele tão pequenininho, mas eu notava que cada dia que eu passava lá, ele melhorava um pouco”, afirma. Quando o filho foi transferido para a Unidade Intermediária, Carlos foi convidado a participar de um projeto especial do hospital: o Pai Canguru. Com isso, passou a fazer mais visitas ao hospital e ter um contato maior com o neném.

O Pai Canguru consiste em um contato pele a pele entre o recém-nascido e o pai. Por pelo menos 15 minutos diários, os dois ficam próximos, unidos com ataduras, e recuperam o “tempo perdido” pelo afastamento da UTI. “É muito emocionante, chorei igual criança”, relembra Carlos sobre o primeiro dia da aproximação. “Não parece que é muita coisa, mas a criança sente. Ela responde aos estímulos. Eu acariciava, tocava nele, conversava com ele e falava ‘vai ficar tudo certo!’ e ele respondia com um sorriso”, completa.

A coordenadora da UTI e UI do Hospital Estadual Rocha Faria, Angelica Svaiter, diz que um dos objetivos do projeto é “fazer uma família”. Com um número maior de partos de adolescentes, ela acha importante aproximar o pai de todo o processo e passar para a mãe o sentimento de amparo. “O Ministério da Saúde preconiza sempre o vínculo afetivo entre mãe e filho, e faz um tempo que a gente vem preconizando a família. Como a cada dia mais temos partos de gestantes adolescentes, e as meninas ficam sozinhas, a gente conseguiu agregar o pai. A gente faz uma família”, explica. Mas o processo é importante para as mães de todas as idades, não apenas para as mais jovens. “A mãe se sente apoiada e o pai passa a vivenciar o momento. E quando você começa a fazer essa integração dentro de uma unidade hospitalar, já se cria o vínculo”, completa. Segundo Svaiter, com o projeto, o bebê apresenta uma evolução melhor, uma recuperação mais rápida e o ganho de peso é mais notado. Pai participante da iniciativa, Carlos concorda. “Você vê melhora no seu filho. Quando você vai pegá-lo de novo, sente que ele está melhor. Ele te olha com mais confiança, sabe que vai ficar tudo bem”, se emociona. 

Pai participante do projeto Pai Canguru, Carlos Vinícus da Silva tem um maior contato com o filho, Heitor, enquanto a criança está na Unidade Intermediária do hospital  Foto: Mauro Pimentel / Terra

Pai participante do projeto Pai Canguru, Carlos Vinícus da Silva tem um maior contato com o filho, Heitor, enquanto a criança está na Unidade Intermediária do hospital 

Foto: Mauro Pimentel / Terra

Para participar do Pai Canguru, os bebês precisam apresentar boas condições de saúde. Não podem estar em uso de oxigênio ou punção venosa, apenas com acesso venoso de tratamento. A criança precisa também estar sendo alimentada pela via oral e sem distúrbios respiratórios. Inicialmente o contato é feito por 15 minutos, mas esse tempo pode aumentar para meia hora e ser intercalado com a mãe. É preciso ver a reação da criança e quanto tempo ela suporta. O trabalho é realizado e acompanhado de perto pela equipe multidisciplinar do hospital, e acontece desde o segundo semestre de 2013. Há 15 dias no projeto, Carlos já fica com o filho inclusive para acalmá-lo antes da amamentação, com o apoio da mãe, que precisou passar um tempo no CTI logo após o parto. “É uma gratificação muito grande”, afirma. Segundo a coordenadora da UTI, o pai se sente acolhido pelo projeto e é um “ganho familiar”.

Pai de uma menina, Cecília, o paranaense André Freitas não teve o mesmo contato com a filha após o nascimento. Por alguns problemas de saúde, Cecília precisou passar um tempo na UTI após o parto, em um hospital do Paraná, e Freitas reclama da falta de acesso à filha e informações sobre o estado da criança. “O período que ela ficou na UTI foi triste, e também pode-se dizer revoltante. Não sabíamos de quase nada. A aproximação praticamente não existiu. Se não me engano, podíamos ver ela uma vez por dia, praticamente sem contato”, relembra. Freitas reclama da falta de informação e de humanização do momento da filha, e acredita que projetos como o Pai Canguru podem ajudar a fortalecer o vínculo. “Se tivesse a oportunidade, participaria”, afirma.

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Angelica Svaiter aposta no valor que a humanização do parto e dos momentos que se seguem podem trazer à vida da criança. “Eu faço UTI há 24 anos, neste mesmo serviço. Você vê diferentes evoluções. Mas a gente sente que quando essa criança tem o apoio familiar, o desenvolvimento dela, o metabolismo é acelerado. Não é um trabalho de literatura, é um trabalho de observação. E nessas observações você vê que as crianças evoluem”, diz.

O hospital fica em uma área da zona oeste do Rio de Janeiro que atende famílias com menor poder aquisitivo. Segundo a profissional, a humanização da gestação e do parto dá mais suporte para as famílias de baixa renda, que se sentem mais acolhidas. Os pais são convidados a participarem na hora do parto, quando este é normal, e podem ficar com as mães no alojamento conjunto. “É um projeto pequenininho, começando. Mas se cada um de nós fizer um pouquinho, a população fica mais bem assistida. São muitas doenças por falta de apoio e carinho”, afirma Svaiter. 






Fonte: Terra

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