Governador do RS Tarso Genro ao lado da presidente Dilma Rousseff (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)
A presidente Dilma Rousseff lembrou em cerimônia nesta segunda-feira (31), data que marca os 50 anos do golpe militar de 1964, os mortos e desaparecidos políticos na ditadura. Nos anos 1970, a presidente foi presa e torturada por integrar uma organização de esquerda que promoveu a luta armada contra o governo.
Ela participou de evento no Palácio do Planalto para assinatura de contrato da construção de uma ponte em Porto Alegre. Durante seu discurso, Dilma disse que lembrar do golpe faz parte do processo de consolidação da democracia no país.
“Lembrar e contar faz parte desse processo que iniciamos, de luta do povo, pela volta da liberdade, pela anistia, Constituinte, diretas, inclusão social, Comissão da Verdade... Por todos os processos de implantação e consolidação da nossa democracia, processo que foi construído passo a passo, por cada um dos governos eleitos depois disso”, afirmou a presidente.
(ESPECIAL "50 ANOS DO GOLPE MILITAR": a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, desencadeou uma série de fatos que culminaram em um golpe de estado em 31 de março de 1964. O sucessor, João Goulart, foi deposto pelos militares com apoio de setores da sociedade, que temiam que ele desse um golpe de esquerda, coisa que seus partidários negam até hoje. O ambiente político se radicalizou, porque Jango prometia fazer as chamadas reformas de base na "lei ou na marra", com ajuda de sindicatos e de membros das Forças Armadas. Os militares prometiam entregar logo o poder aos civis, mas o país viveu uma ditadura que durou 21 anos, terminando em 1985. Saiba mais).
"Nós aprendemos o valor da liberdade, o valor de um Legislativo e de um Judiciário independentes e ativos. Aprendemos o valor da liberdade de imprensa, o valor de eleger por um voto direto e secreto de todos os brasileiros, de governadores, prefeitos... De eleger, por exemplo, um ex-exilado, um líder sindical que foi preso várias vezes e uma mulher também que foi prisioneira", completou Dilma.
Segundo a presidente, o dia de hoje exige "que nós nos lembremos e contemos o que aconteceu". "Devemos isso a todos os que morreram e desapareceram, devemos aos torturados e perseguidos, devemos a suas famílias, devemos a todos os brasileiros", afirmou.
Além de lembrar dos que morreram e lutaram pela democracia, Dilma fez questão de exaltar os acordos políticos que levaram à redemocratização. Citando a filósofa política alemã Hannah Arendt, a presidente afirmou que a dor sofrida nesse período, "as cicatrizes visíveis e invisíveis" podem ser "suportadas" porque hoje o país tem uma democracia "sólida".
"Se existem filhos sem pais, se existem pais sem túmulos, se existem túmulos sem corpos, nunca, nunca, nunca mesmo pode existir uma história sem voz. E quem dá voz à história são homens e mulheres livres, que não têm medo de escrevê-la. E acrescento: quem dá voz à história somos cada um de nós, que no nosso cotidiano afirma, protege, respeita e amplia a democracia em nosso país", concluiu.
Segundo a presidente, durante 21 anos, "sonhos foram calados", mas o Brasil, afirmou, ultrapassou essa etapa e aprendeu com o período.
“Nós podemos olhar para este período e aprender com ele, porque nós o ultrapassamos. O esforço de cada um de nós, o esforço de todas as lideranças do passado, daqueles que vivem e daqueles que morreram, fizeram com que nós ultrapassássemos essa época, os 21 anos”, declarou.