Policiais da 29ª DP (Madureira) fazem nesta quinta-feira (3) uma reconstituição da morte da auxiliar de serviços gerais Claudia Silva Ferreira, que foi baleada no dia 16 de março em uma operação da Polícia Militar no Morro da Congonha, em Madureira, Subúrbio do Rio, e arrastada pelo carro da corporação após ter sido socorrida, segundo a polícia. Oito PMs que participaram da ação na comunidade foram intimados a fazer parte da reprodução simulada. Familiares da vítima e testemunhas também foram convocados. A Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) vai apoiar a reconstituição.
Ronald dos Santos, um dos presos suspeitos de
atirar contra PMs no Morro da Congonha, no Rio
(Foto: Mariucha Machado/G1)
Claudia foi baleada por PMs quando descia a favela para comprar pão. Ela foi colocada por policiais militares no porta-malas da viatura, para ser levada, segundo a PM, ao Hospital Carlos Chagas, aonde chegou sem vida, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. No meio do caminho, no entanto, porta-malas se abriu, a mulher ficou presa ao carro por um tecido da roupa e teve parte do corpo dilacerada ao ser arrastada pelo asfalto por cerca de 350 metros.
Três policiais chegaram a ser presos após a ação no Morro da Congonha, mas foram soltos dias depois. Dois deles têm, no histórico, registros de homicídios decorrentes de intervenção policial, segundo a Polícia Civil. O subtenente Adir Serrano Machado consta como autor em 13 homicídios; enquanto o subtenente Rodney Miguel Archanjo tem três registros de homicídio; e o sargento Alex Sandro da Silva Alves não possui nenhum registro como autor de mortes.
Um cinegrafista amador registrou o momento em que Claudia foi arrastada (o vídeo foi divulgado pelo jornal "Extra") e, por conta disso, houve suspeita de que os ferimentos no asfalto poderiam ser a causa da morte da vítima. O laudo do Instituto Médico Legal (IML), entregue à 29ª DP (Madureira), no entanto, não respondeu se a mulher morreu na hora que foi baleada ou no caminho do hospital. No documento, os peritos apontam que o tiro que atingiu Claudia provocou uma lesão grave e que ela morreu em poucos minutos, mas não dizem exatamente em quantos.
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O laudo também não informa se a bala que atingiu a vítima foi disparada por um fuzil. No dia da morte, a Policia Militar divulgou uma nota em que afirmava que Claudia foi encontrada viva pelos policiais. Em depoimento, porém, os PMs disseram que já a encontraram morta. Agora, ao fazer a reconstituição, a Polícia Civil espera tirar essas dúvidas.
Acharam que era bandida', diz filha
Uma das filhas de Cláudia, Thaís Lima contou que os policais que estavam no local acharam que a mulher tivesse envolvimento com o tráfico de drogas. A garota disse, porém, que não acredita na PM.
"Foi só ela virar a esquina e deu de frente com eles [os policiais]. Eles deram dois tiros nela, um no peito, que atravessou [o corpo], e o outro não sei se foi na cabeça ou no pescoço, pelo que falaram. Aí ela caiu no chão. [Os policiais] Falaram que se assustaram com o copo de café que estava na mão dela. Eles estavam achando que ela era bandida, que ela estava dando café para os bandidos", afirmou a filha.
Segundo Thaís, moradores da comunidade tentaram impedir que a polícia levasse Claudia do local. No tumulto, policiais teriam atirado para o alto para afastar as pessoas. Ainda segundo a garota, o porta-malas da viatura da PM que levou a mulher se abriu pela primeira vez na Rua Buriti, logo após o socorro feito pelos policiais.
"Um [deles] a pegou pela calça e outro pela perna, e a jogaram dentro da Blazer, lá dentro, de qualquer jeito. Ela ficou toda torta lá dentro. Depois, desceram com ela e o porta-malas estava aberto. Ela ainda caiu na [Rua] Buriti [em Madureira], no meio do caminho, e eles pegaram e a botaram para dentro de novo. Se eles viram que estava ruim, por que não a endireitaram e não bateram a porta de novo direito?", questionou Thaís.