Há quatro meses no comando de uma das pastas mais importantes, mas também complicadas, o secretário municipal de Saúde, Werley Silva Peres (PDT), enfrenta uma onda de críticas por conta da dificuldade em acabar com o "gargalo" que se tornou o setor em Cuiabá, no contexto da administração do prefeito Mauro Mendes (PSB).
Nesta semana, o vereador Ricardo Saad (PSDB) admitiu que pode pedir a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara e convocar, além do secretário, o próprio prefeito.
Ele já teria o apoio de seis colegas. São necessárias nove assinaturas para a instalação da comissão no Legislativo
Na última quinta-feira (15), por exemplo, o Posto de Saúde do Residencial Coxipó chegou a fechar as portas por falta limpeza no local e material de trabalho aos profissionais, conforme o MidiaNews antecipou. (Leia mais AQUI).
Peres assumiu o lugar deixado pelo médico Kamil Fares (PDT), que saiu do cargo após forte pressão política. No entanto, a gestão de Peres não está sendo menos difícil.
Um dos ferrenhos críticos da Saúde na capital é o vereador Ricardo Saad (PSDB), que chegou a pedir, em sessão ordinária na Câmara Municipal, a exoneração do atual secretário.
Para Saad, Peres não compartilha informações da Saúde com os vereadores, o que dificultaria a ajuda dos parlamentares ao Executivo Municipal.
Na sessão ordinária de quinta-feira (15), o plenário aprovou requerimento do vereador Cido Mendonça (PT), que pede a convocação do secretário para informar quais medidas estão sendo tomadas para melhorar o setor.
O secretário deve comparecer ao Legislativo Municipal na próxima terça-feira (20). Já na sexta-feira (23), Peres volta à Câmara para fazer a prestação de Contas da Secretaria Municipal de Saúde.
“Após muitas críticas, o secretário apareceu para conversar conosco na tarde de quinta e expôs vários fatos, até em relação a como a Saúde irá ficar durante a Copa, que é a nossa maior preocupação”, disse Saad ao MidiaNews.
“Muitas coisas que deveriam estar prontas antes da Copa, não estarão. O Hospital São Benedito é um exemplo. Tem a questão da falta de médicos; a Policlínica do Verdão, por exemplo, precisa de um grande aparato e de uma reforma, mas não fizeram nada”.
Entre as alegações de Peres em desenvolver um trabalho capaz de conter os problemas da Saúde em Cuiabá é a falta de repasse do Governo.
Saad culpou o governador Silval Barbosa (PMDB) pelo baixo investimento na área. “O governador cortou 50% do valor do repasse à Saúde. Quando isso aconteceu, o Estado matou todos os polos que tinham no interior, porque tudo fechou. Isso fez com que todos viessem, novamente, para Cuiabá”, disse.
O parlamentar acredita que a solução do problema seria a descentralização da Saúde, para que os hospitais do interior funcionem e Cuiabá diminua o número da demanda no atendimento.
“Vamos até Brasília, se for o caso, para saber o motivo desse repasse não chegar aqui”, anunciou Saad.
“Mas vamos esperar, porque não adianta só jogar pedra. O problema é que ele não passa para todo mundo o que está acontecendo, qual dificuldade que está tendo. Isso tem que ser tudo informados para os vereadores possam ajudar”, completou.
Faltam leitos
Um dos principais problemas enfrentados pela gestão de Peres é a dificuldade em aumentar o número de leitos na capital.
De acordo com dados da Prefeitura de Cuiabá, atualmente, o Pronto-Socorro da capital oferece 40 unidade de tratamento intensivo (UTI).
A intenção é aumentar esse número para 70 até a Copa do Mundo, que ocorre em menos de um mês.
De acordo com o presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT), o cirurgião plástico Gabriel Felsky dos Anjos, os problemas de leito atingem tanto o setor público, quanto o privado.
“No início do ano, tínhamos 70 pacientes no chão. Hoje, está faltando tudo na Saúde, faltam médicos, medicamentos, estrutura, até água e esparadrapos já faltaram. Nesta semana, fizemos uma campanha de doação entre os médicos. Fizemos uma coisa que é função do gestor”, criticou.
Para o médico, o caos instalado no setor é culpa da falta de investimentos do atual prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes (PSB).
“O maior problema na Saúde em Cuiabá é a falta de prioridade, de defini-la como prioridade. Não é só culpa do secretário, mas do prefeito, que é quem, hierarquicamente, está acima e define a política do setor de Saúde em Cuiabá”.
Culpa dos deputados
Na sessão de quinta-feira, outro vereador que fez coro com Ricardo Saad foi Toninho de Souza (PSD).
No entanto, o parlamentar foi além e culpou a falta de movimentação dos deputados mato-grossenses pelas dificuldades na Saúde.
“A maioria dos deputados estaduais não tem compromisso com Cuiabá. Nunca vi um deputado defendendo a questão da Saúde aqui. Por que eles não se mobilizam para ajudar esse setor de Cuiabá?”, questionou.
Para o social-democrata, há muita crítica da mídia e da sociedade em cima da Câmara, em detrimento dos deputados estaduais e federais.
“Gostaria de pedir para os deputados lutarem um pouco para defender os interesses de Cuiabá, principalmente na questão da Saúde e Segurança. É só conversa fiada lá. O povo gosta de ‘rufar’ o pau na Câmara, mas na Assembleia ninguém fala nada”, esbravejou.
Outro lado
A reportagem do MidiaNews tentou entrar em contato com o secretário de Saúde de Cuiabá, Werley Peres, que se limitou a informar, por meio de assessoria, que irá comparecer à Câmara para prestar as informações solicitadas pelos vereadores.