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Policia MT
Segunda - 19 de Maio de 2014 às 08:59
Por: Adamastor Martins de Oliveira

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Com aumento de mais de 30% no número de homicídios e 2 chacinas registradas este ano nas cidades de Cuiabá e Várzea Grande, a Polícia Civil investiga a possibilidade do envolvimento de grupos específicos atuando na eliminação de pessoas. Outras linhas de investigações são com foco nas ordens de assassinatos partindo de dentro dos presídios e ainda acerto de contas ou disputa por território do tráfico de drogas.

Este ano já são 191 assassinatos, até sábado. Abril foi apontado como o mês mais violento do ano, com 59 execuções, e o número de mortes registrado até agora ultrapassa a quantidade de vítimas entre janeiro e todo o mês de maio de 2013, 147 casos.

A maioria das vítimas é jovem e tinha algum tipo de envolvimento com a criminalidade. Titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o delegado Silas Caldeira entende que as estatísticas demonstram claramente o aumento da violência e preocupam a segurança pública. “A quantidade de homicídios aumentou, isso é indiscutível e estamos trabalhando para dar uma resposta à sociedade”.

Embora exista uma linha de investigação voltada para o aparecimento de um ou mais grupos atuando nesses casos, Caldeira destaca que é cedo para fazer qualquer afirmação. Mas destaca que a Polícia Civil pediu um levantamento de materiais nos locais de crimes, como cartuchos de munições para identificar se as armas usadas nas execuções são registradas ou não, entre outros indícios que levem aos criminosos. “Estudamos as evidências e estamos em fase de investigação”.

Para o delegado, é inconcebível que um grupo de pessoas se reúna para eliminar quem quer que seja, independente da vítima ter ligação com crimes ou seja usuária de drogas. Silas destaca que julgamentos e punições cabem à Justiça e não é legal civis atuarem nesse serviço.

A instituição de um grupo de justiceiros ou de extermínio na sociedade é vista como perigosa e precisa ser combatida, uma vez que a morte de terceiros pode virar rotina, além da chance de registro de atrocidades cometidas por essas pessoas. Ao entender como normal matar, os envolvidos nesses grupos correm o risco de começar a eliminar desafetos, ou levar vantagens nesses homicídios, como se apropriar de objetos pertencentes às vítimas, entre outras ações.

Cuiabá teve a presença de grupos de extermínios nos anos de 1984, quando ocorreram os crimes da “Toalha Azul”, e em 1999 foi descoberta “A Firma”. O primeiro era formado por policiais civis, que foram descobertos ao realizarem uma falsa blitz no Trevo do Lagarto, resultando na morte de 9 pessoas e roubo de pertences e dinheiro.

A Firma era composta por policiais militares que cobravam valores pelo extermínio de pessoas. Em 2007, a Polícia Civil investigou a existência de nova atuação de grupo de extermínio na Capital.
Membro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, o pastor Teobaldo Witter entende que a criação desses grupos e o apoio de parte da sociedade em relação as ações, quando as vítimas têm algum envolvimento com drogas ou outros crimes, é reflexo da falta de valor que temos dado à vida do próximo e sensibilidade com a dor do outro. Lembra ainda que o envolvimento de jovens com o mundo das drogasé um fenômeno mundial que reflete a atual realidade e a eliminação de pessoas não resolve o problema. “Cada ser humano assassinado representa a morte de um pedacinho de toda sociedade”.

O problema enfrentado hoje precisa ser tratado com ações voltadas para a saúde, efetivação de leis, justiça e principalmente educação. O pastor frisa que o aprendizado precisa ir além do conhecimento. É necessário a interiorização, de forma que o conteúdo faça parte da vida de cada um. “Todo mundo sabedos problemas, mas ninguém quer saber, ninguém quer se preocupar com o outro. Hoje, a vida é voltada para o consumo e o egoísmo é cada vez maior”.

Pelo conceito de sobrevivência atual, Teobaldo destaca que são escolhidos os que vão se dar bem e os que merecem morrer. Pela estatística, estão condenados à morte os menos favorecidos financeiramente, a maioria jovens, negros, moradores de áreas periféricas.

CHACINAS - Em 20 de fevereiro, um grupo encapuzado e armado chegou em um bar do bairro São Mateus, em Várzea Grande, onde vários homens estavam reunidos e mandou todos virarem para a parede. Na sequência, dispararam várias vezes contra as vítimas. Três pessoas morreram na hora e as outras 5 foram socorridas por duas ambulâncias do Samu para hospitais de Várzea Grande e Cuiabá.

Foram a óbito no bar, Sebastião José Pinho, 23, Douglas Campos Fernandes, 18, e Anderson José Leite da Silva, 19. Gean de Assunção Pedroso e Gonçalo Vaz de Campos, 60, morreram logo após darem entrada no Pronto-Socorro de Várzea Grande. M.S.L.J. e G.M.A.P. M.S.P. ficaram hospitalizados, mas sobreviveram.

Testemunhas relataram na época que os atiradores usavam coturnos. Afirmaram ainda que momentos depois da chacina, policiais militares estiveram no bar recolhendo as cápsulas das balas e disseram que “teria mais” para quem estivesse incomodado com as mortes. A Polícia Civil investiga o caso e não descarta o envolvimento da PM nos crimes. Esta semana, mais 3 pessoas foram mortas em uma chacina registrada no bairro Nova Esperança, em Cuiabá.

Thiago Alexandre Santos de Souza, 27, o “Cabralzinho”, o irmão dele, Claudemir de Souza, 35, e Bruno Silva de Assunção, 18, foram alvejados em frente à casa de Cabralzinho, que chegou a ser socorrido, mas morreu na Policlínica. Ele levou 9 tiros. As outras duas vítimas foram a óbito no local.

Os 3 rapazes tinham passagens criminais. Cabralzinho era um dos mais conhecidos e em 2008 chegou ser apontado como autor de uma lista de nomes de 24 criminosos que seriam mortos.

Delegado Silas explica que nas duas situações está clara a intenção de matar o grupo, o que figura como chacina. E entende que o tiroteio registrado no bairro Nova Ipê, em Várzea Grande, na noite do dia 3 de maio, deixando 3 feridos e 1 morto não pode ser considerado chacina.

“O fato de pessoas armadas chegarem atirando a esmo não figura como chacina. Os integrantes de grupos que chegam com intenção de matar, eles fecham o cerco e eliminam os alvos. Se alguém foge, eles correm atrás. Ali, os ocupantes dos carros chegaram atirando sem muito foco”.





Fonte: A Gazeta

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