Assessoria deletou postagem após pedido de advogado em comentário (Foto: Reprodução/Facebook)
A postagem de uma imagem de Bernardo Boldrini em uma propaganda no perfil de um deputado federal do Rio Grande do Sul no Facebook causou desconforto à família materna do menino, assassinado no dia 4 de abril. Publicada na quarta-feira (21), a foto faz referência à aprovação no Congresso Nacional da Lei da Palmada, rebatizada de Menino Bernardo, que proíbe pais e responsáveis legais por crianças e adolescentes de bater em menores de 18 anos.
O corpo de Bernardo, que tinha 11 anos, foi encontrado enterrado em 14 de abril em uma cova em um matagal no município de Frederico Westphalen, na Região Norte do Rio Grande do Sul, a cerca de 80 km de Três Passos, no Noroeste, onde o garoto morava. Acusados de homicídio, opai da criança, Leandro Boldrini, a madrasta, Graciele Uglione, e a amiga dela Edelvania Wirganovicz são réus no processo. O irmão de Edelvania, Evandro Wirganovicz é acusado de ocultação de cadáver. Os quatro estão presos.
No post, o deputado celebra o avanço do projeto com a mensagem "Aprovamos a Lei Bernardo". Abaixo da imagem, havia um logo do deputado. "Não autorizei nenhum político a fazer isso. Acho que ele deveria ter pedido minha autorização", comentou a avó materna de Bernardo, Jussara Uglione, 74 anos, que reside em Santa Maria, Região Central do Estado, reduto eleitoral do parlamentar.
Avó não quer uso da imagem de Bernardo para fins
políticos (Foto: Reprodução/RBS TV)
Procurada pelo G1, a assessoria do federal Nelson Marchezan Júnior (PSDB-RS) informou que a postagem seria deletada, o que aconteceu por volta das 18h45. O advogado de Jussara, Marlon Taborda, alertou, em um comentário na rede social, a posição da família diante do tema. Conforme o gabinete dele no Congresso, o político não foi o autor da publicação e recebeu um comunicado na tarde desta quinta (22) sobre a contrariedade da avó.
"O que me chamou atenção é que poderia usar a foto, mas não com o logo dele. Nesse aspecto, aproveita um momento de clamor. Eu vejo que a utilização dessa foto com o logo como imprópria", disse Taborda ao G1. De acordo com o advogado, o uso do nome de Bernardo no projeto originalmente batizado de "Lei da Palmada" foi visto como "positivo" pela família.
Aprovada em caráter terminativo, o texto seguirá diretamente para análise pelo Senado, sem necessidade de votação no plenário da Câmara. O projeto prevê que os pais que agredirem fisicamente os filhos devem ser encaminhados a cursos de orientação e a tratamento psicológico ou psiquiátrico, além de receberem advertência.
A matéria não especifica que tipo de advertência pode ser aplicada aos responsáveis. As crianças e os adolescentes agredidos, segundo a proposta, passam a ser encaminhados para atendimento especializado.
O texto altera o Estatuto da Criança e do Adolescente para incluir trecho que estabelece que os menores de 18 anos têm o direito de serem "educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante" como formas de correção ou disciplina.
Evandro foi preso em Frederico Westphalen
(Foto: Fábio Pelinson/Jornal O Alto Uruguai)
Indiciamentos
O pai, a madrasta e a assistente social foram indiciados pelos crimes de homicídio qualificado, com os qualificadores "mediante paga ou promessa de recompensa, motivo fútil, meio insidioso, dissimulação e recurso que impossibilitou a defesa da vítima", conforme a polícia, e ocultação de cadáver.
Leandro Boldrini: atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Ele também auxiliou na compra do remédio Midazolan em comprimidos, fornecendo a receita azul. Leandro e Graciele arquitetaram o plano, assim como a história para que tal crime ficasse impune.
Graciele Ugulini: mentora e executadora do delito de homicídio, bem como da ocultação do cadáver.
Edelvânia Wirganovicz: executora do delito de homicídio e da ocultação do cadáver.
Bernardo Boldrini morava em Três Passos, no RS
(Foto: Reprodução/RBSTV)
Entenda
Conforme alegou a família, Bernardo teria sido visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. No domingo (6), o pai do menino disse que foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores.
No início da tarde do dia 4, a madrasta foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. Graciele trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.
"O menino estava no banco de trás do carro e não parecia ameaçado ou assustado. Já a mulher estava calma, muito calma, mesmo depois de ser multada", relatou o sargento Carlos Vanderlei da Veiga, do CRBM. A madrasta informou que ia a Frederico Westphalen comprar um televisor.
O pai registrou o desaparecimento do menino no dia 6, e a polícia começou a investigar o caso. Na segunda-feira (14), o corpo do garoto foi localizado. De acordo com a delegada responsável pela investigação, o menino foi morto por uma injeção letal, o que ainda precisa ser confirmado por perícia. A delegada diz que a polícia tem certeza do envolvimento do pai, da madrasta e da amiga da mulher no sumiço do menino, mas resta esclarecer como se deu a participação de cada um.