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Nacional
Terça - 24 de Junho de 2014 às 20:57
Por: Adamastor Martins de Oliveira

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Na noite da última sexta-feira, uma mensagem compartilhada no grupo “Taquara da Depressão”, no Facebook, denunciava um homem que teria assassinado o próprio filho por não aceitar o fim do casamento. Uma foto com a identificação do suposto assassino também foi incluída na postagem. Tratava-se de Leonardo Bezerra da Silva, de 34 anos, morador do bairro de Jacarepaguá.

Filho do famoso sambista e pai de dois filhos, Leo, como é chamado pelos amigos, estava em casa com a família reunida para assistir ao jogo do Brasil contra Camarões, na última segunda-feira, quando seu telefone começou a tocar.

- Meus amigos começaram a me ligar, a mandar mensagens, desesperados. Contaram o que viram e me falavam para tomar cuidado, porque não sabiam o que poderia acontecer. No início, achei que era uma brincadeira. Só quando entrei na internet que eu vi a proporção que tinha tomado. Imagina se algo acontece comigo? Se alguém me lincha na rua? Você se sente acuado - contou ele.

Foto: Reprodução/Facebook

Músico, o irmão de Leo, Ytalo Bezerra, se apresentava em São Paulo, e conta que levou um susto ao tomar conhecimento da história.

- Acordei com esse susto de madrugada. Vi no Facebook. Liguei para ele, que me tranquilizou, disse que estava bem tudo bem. Todo mundo que conhece meu irmão sabe que é boato, alguém está querendo aparecer em cima da imagem da familia. Deve ser um doido. Ninguém sabe quem postou - afirmou o cantor, que segue a carreira do pai ilustre.

Leo e o filho menor, durante o jogo do Brasil na última segunda-feira
Leo e o filho menor, durante o jogo do Brasil na última segunda-feira Foto: Reprodução/Facebook

O caso foi registrado na Delegacia de Repressão Crimes de Informática (DRCI) como crime de calúnia. Segundo Leo, que ainda vai conversar com uma advogada para obter orientações sobre o caso, a intenção é entrar também com um processo judicial contra os responsáveis pela disseminação da falsa notícia.

- Vou processar não só pela minha vida, mas vou processar porque alguém tem que ser responsabilizado. A pessoa que fez isso é uma covarde. Eu não tenho inimigos, nunca vivi isso. O que quero que fique claro, e que é o mais importante pra mim, é a responsabilidade de como essas ações são disseminadas. A descoberta sobre quem fez isso é importante? é. A Policia vai fazer esse trabalho, é o papel deles investigar, para que a Justiça seja feita da forma correta. Mas encontrar o culpado é o menos importante, eu e meus filhos estamos bem. O problema é social. A gente tem que criar mecanismos, não de repressão, mas para que outras ações como esta não voltem a acontecer. Temos que ter um limite para que essas barbáries não voltem acontecer - afirmou Leo.

Os administradores removeram a mensagem com conteúdo falso da página pouco depois dela ter sido postada. Ainda assim, houve tempo suficiente para o boato se espalhar na internet. O perfil responsável pelo conteúdo, identificado como Leo Rodrigues, não foi mais encontrado. Os usuários se solidarizaram com a história e deram apoio a Leo.

No começo desta tarde, um dos moderadores da página, Bob Taquara, compartilhou uma mensagem sobre o caso, na qual afirma não se responsanbilizar sobre o conteúdo das postagens.

“ATENÇÃO. Gostaríamos de deixar claro, neste tópico, que repudiamos todo e qualquer tipo de calúnia no grupo. Visto os últimos acontecimentos, também detalhamos que não nos responsabilizamos pelo conteúdo (sobre o estupro) postado ontem, dia 24/06 e que segundo o próprio acusado, é falso. Além disso, não nos responsabilizamos por qualquer conteúdo aqui postado, uma vez que para nós essa responsabilidade é de quem publica e não estamos 24h por dia online para moderar o que se posta aqui. É lamentável que esse tipo de situação aconteça e esperamos que tudo se resolva o mais rápido possível. No mais, esperamos continuar nosso "trabalho", no qual não ganhamos nada, fazemos apenas por amor e melhorias no bairro. Att, Equipe do Grupo Taquara da Depressão”.

Segundo o inspetor da DRCI, Ricardo Provenzano, a denúncia é importante para resguardar o cidadão que é vítima das acusações. Ele afirmou ainda que o boato será investigado, mas não tem previsão sobre a conclusão do inquérito.

- Se o Leonardo tivesse cometido algum crime, todo mundo saberia, a mãe da criança já teria feito uma denúncia. Acredito que ele também não teria vindo a público se expor se fosse o culpado. O problema é que as pessoas acreditam nessas coisas. Qualquer besteira que se posta na internet as pessoas acreditam piamente. Estou agora atendendo um caso em que a noiva terminou o relacionamento porque postaram bobagens sobre o rapaz.

O agente explicou ainda que, neste caso, só quem compartilhou será investigada, mas que as pessoas que curtem essas informações também podem ser responsabilizadas eventualmente.

- O crime é de quem posta. Ao menos que a pessoa compartilhe o boato fazendo um comentário em cima daquilo, acrescentando algo mais ou incitando violência, por exemplo.

O processo para determinar o responsável pela acusação contra Leonardo pode demorar e até mesmo ser inconclusivo. Isso porque o perfil que compartilhou a informação foi excluído e as informações dele serão guardadas pelo Facebook por apenas três meses. Ainda segundo Provenzano, é preciso pedir à Justiça a quebra de sigilo ao Facebook, o que pode demorar pelo menos 180 dias, o dobro de tempo obrigatório que a empresa deve preservar os dados.

Justiça com as próprias mãos

O caso lembra o da dona de casa Fabiane Maria de Jesus. Ela foi linchada por centenas de pessoas, no Guarujá, em São Paulo, no começo de maio, após um boato divulgado no Facebook. Fabiane foi confundida com uma sequestora e acusada de matar crianças para a prática de magia negra. Fabiane morreu dois dias depois das agressões, devido a um traumatismo craniano.





Fonte: Extra Online

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