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Segunda - 14 de Julho de 2014 às 09:21
Por: Adamastor Martins de Oliveira

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MidiaNews
Lúdio critica postura moralista do adversário, Pedro Taques
Lúdio critica postura moralista do adversário, Pedro Taques

Candidato ao Governo do Estado, o médico Lúdio Cabral (PT) classificou como "um caos" a situação da Saúde em Cuiabá. Contundente, ele deu "nota 3" à gestão do prefeito Mauro Mendes (PSB) na área. 


E responsabilizou o senador Pedro Taques (PDT), seu adversário na campanha eleitoral, pelo agravamento da crise da Saúde, com atendimento precário e pessoas morrendo por falta de atendimento adequado.

"Muitos dos problemas da Saúde em Cuiabá são resultado do fato de o prefeito ter confiado ao senador Pedro Taques a gestão da Saúde. Desde o primeiro dia do governo Mauro Mendes, a pasta está sob o comando do Pedro Taques"

“O Pedro Taques é responsável direto pela condução da Saúde no município de Cuiabá. Ele é responsável pelo caos em que a Saúde se encontra nesse município. Desde o início da gestão de Mauro Mendes ele e seu partido que controlam a Secretaria de Saúde, tendo indicado os dois secretários da pasta", afirmou.

Lúdio acusou Taques de tentar se livrar de tal ônus, e não se manifestar sobre a crise da Saúde na Capital. Porém, assumiu o compromisso de ajudar, por meio de parceria, o prefeito Mauro Mendes a resolver o problema, caso seja eleito.

“O Pedro Taques não assume que tem responsabilidade em relação à crise da Saúde, e deixa nas costas do prefeito esse ônus, sobretudo do ponto de vista politico. Ele deveria ser mais companheiro do Mauro Mendes e assumir essa responsabilidade”, disse.

Derrotado na disputa pela Prefeitura de Cuiabá, em 2012, Lúdio admitiu que adotou, naquela ocasião, um discurso muito moderado, ao estilo "paz e amor".

"Não iremos atacar ninguém, mas nada, absolutamente nada ficará sem resposta", disse.

Na primeira entrevista do MidiaNews com os candidatos ao Palácio Paiaguás, Lúdio centralizou suas críticas a Taques, colocando em xeque sua capacidade em administrar o Estado.

“É um candidato que tem origem no Ministério Público, passou a vida inteira acusando... É um risco para o Estado esse tipo de posição, porque o Poder Executivo tem a tarefa de realizar políticas públicas, respeitar as demais instituições, dar autonomia a elas. E a avaliação dele como senador já demonstra a dificuldade de se comportar de acordo com o papel que o cargo pressupõe”, disse.

Confira os principais trechos da entrevista:
MidiaNews – O senhor é médico e vem batendo na tecla de que a Saúde será uma de suas prioridades, assim como outros candidatos. Como o senhor enxerga essa questão no Estado e em Cuiabá?

Lúdio Cabral - Na gestão da Saúde temos um dado que é importante para a população nestas eleições identificar, que é o fato de que todos nós (candidatos) temos certeza de que vamos defender melhorias na Saúde, agora, é a experiência acumulada na trajetória de cada um de nós que vai dizer se estamos preparados pra enfrentar esse drama. Muitos dos problemas da Saúde em Cuiabá são resultado do fato de o prefeito ter confiado ao senador Pedro Taques a gestão da Saúde. Desde o primeiro dia do governo Mauro Mendes, a pasta está sob o comando do Pedro Taques. Os dois secretários de saúde que ele teve são do PDT, os principais cargos de confiança da Saúde em Cuiabá são indicação do senador Pedro Taques e o vice governador do Pedro Taques (Carlos Fávaro) é do partido (PP) que implantou o modelo das OSS (Organizações Sociais de Saúde) no Estado, que gerou essa situação de dificuldade hoje”.

MidiaNews - O senhor então afirma que o PDT e o senador Pedro Taques, que certamente participou da indicação desses nomes, têm responsabilidade pelo caos na saúde em Cuiabá?

Lúdio Cabral – Ele é o responsável direto pela condução da Saúde em Cuiabá e pelo caos em que se encontra. Esse é mais um exemplo do silêncio constrangedor do senador sobre o problema, porque ele não assume isso, deixa nas costas do prefeito esse ônus do ponto de vista político. Deveria ser mais companheiro e assumir essa responsabilidade. Nos bastidores a informação é de que há pouco tempo cogitou-se a saída de todos os membros do PDT que estavam na pasta para não manchar, não ter desgaste político da imagem do senador.Esse é um comportamento de quem não é companheiro e a população é inteligente. Não adianta agora, na véspera de eleição, você que comanda uma secretaria querer sair para não arcar com o desgaste. É mais um exemplo do comportamento do nosso adversário que eu espero que a população tenha a oportunidade de debater, de questionar durante a campanha.

MidiaNews-Inclusive teve um médico pediatra do Pronto-Socorro de Cuiabá que denunciou, na semana passada, que todos os dias morrem pessoas por falta de atendimento adequado, que o local é “uma máquina de matar gente”. Em 2012, o então candidato Mauro Mendes disse que o problema era gestão, que ele resolveria isso rapidamente, inclusive construindo um novo Pronto-Socorro...

Lúdio Cabral - É uma área onde infelizmente as mudanças que precisavam acontecer não aconteceram e é um desafio que está colocado pra mim como candidato a Governador porque eu entendo que um Governador tem um papel a cumprir no enfrentamento desse problema. Pra isso, embora eu identifique que a Saúde em Cuiabá continue com as mesmas deficiências, eu quero me colocar à disposição do prefeito pra junto com ele enfrentar, em um ritmo mais forte, esses problemas, cumprindo a tarefa que o Governo tem de organizar o interior, com uma rede de serviços para diminuir a demanda de capital, apoiando cada vez mais os municípios com aporte de recursos, articulando, inclusive, via Ministério da Saúde. Temos ainda mais de 50 hospitais municipais que poderiam dar conta da atenção hospitalar de baixa complexidade e estão subutilizados e Estado precisa apoiar financeiramente a qualificação desses hospitais com mão de obra para aproximar o serviço da população e diminuir a demanda da capital, além de identificar os gargalos de cada região e substituir gradativamente os modelos das OSS pela gestão direta.

MidiaNews – Então, caso seja eleito Governador, o senhor dará apoio ao prefeito Mauro Mendes (PSB)?

Lúdio Cabral – Vou fazer questão de ser parceiro do prefeito Mauro Mendes. Faço questão porque nessa hora temos que esquecer as diferenças políticas e se a Saúde continua sendo o drama e o prefeito tem dificuldade de resolver esses problemas, o Estado tem que se aproximar. Eu como Governador, médico sanitarista, da saúde pública, vou ter isso como prioridade: vou me aproximar do município de Cuiabá.
"Vou fazer questão de ser parceiro do prefeito Mauro Mendes. Como governador, médico sanitarista, da Saúde pública, vou ter isso como prioridade: vou me aproximar do município de Cuiabá"
MidiaNews - E porque não houve essa aproximação neste governo que o senhor representa?

Lúdio Cabral – Muito dos problemas da Saúde de Cuiabá também são de responsabilidade do município, que não resolveu a fixação de profissionais no serviço de saúde, no Pronto-Socorro, nas policlínicas. Não deveria também, na minha opinião, fechar a policlínica do CPA, de se reduzir o volume de atendimento na policlínica do Planalto que acumulou na da Morada do Ouro, mas, se é decisão do novo prefeito construir um novo Pronto-Socorro, o Estado tem que ajudar nesse serviço e depois ajudar no custeio dele porque esse é o principal problema, assegurar o funcionamento cotidiano daquele serviço.

MidiaNews- Que nota você dá para a gestão municipal em relação à Saúde?
Lúdio Cabral– É difícil fazer essa leitura, mas eu daria uma nota 3.


MidiaNews – O senhor representa o atual Governo que, entre outras coisas, é acusado de ter abandonado o interior, em função da Copa. O próprio Governador falou que foi uma administração atípica, que teve que focar em Cuiabá. No entanto, critica-se esse suposto abandono, principalmente em relação à Saúde, à Infraestrutura, à Educação. Nessa peregrinação pelo interior, oque você viu de fato nesse sentido? A população está carente, está abandonada?
Lúdio Cabral - Cada governo tem características positivas e fragilidades. Todos os governos que Mato Grosso teve depois da redemocratização foram assim. Temos que ter a humildade de reconhecer o certo e o errado em todos os governos, nenhum é perfeito. E o atual foi realmente atípico porque assumiu a responsabilidade muito grande de preparar o nosso Estado para a Copa do Mundo e mais do que isso, aproveitar essa oportunidade para recuperar 30 anos de atraso na mobilidade urbana na capital e em Várzea Grande. Foi um Governo também concentrado em resolver o déficit na infraestrutura do interior e o esforço para enfrentar isso foi o programa MT integrado, para conectar por asfalto 44 municípios que até hoje não tinham ligação por asfalto com o restante do Estado. A marca do atual governo foi essa.

MídiaNews – Mais isso não é muito pouco?

Lúdio Cabral - É lógico que isso significa limitação em outras áreas, nas políticas sociais principalmente, então, na minha opinião, fazer a leitura correta da realidade é importante para projetar o futuro, para saber quais são as prioridades do próximo Governador.

MidiaNews - Quais são as suas?

Lúdio Cabral - A leitura que colhemos da opinião da população dos municípios que visitamos é de que a tarefa prioritária do próximo Governador é a de realizar políticas sociais de qualidade que alcancem o cotidiano das pessoas e melhorem a qualidade de vida delas. Educação, Segurança Pública, e especialmente Saúde serão o maior desafio do próximo Governo, é uma tarefa prioritária de um mandato de um Governo, especialmente para mim, que sou médico sanitarista e que trabalho na saúde pública.

MidiaNews - A situação na Saúde é tão dramática no interior quanto em Cuiabá?

Lúdio Cabral - Há um problema sistêmico. Todo o nosso sistema de saúde tem problemas e precisa de reformas, tanto na capital quanto no interior. Precisamos ampliar os serviços no interior, aproximar os serviços de onde a população vive pra diluir as distâncias para que a população acesse esse serviço. Na minha opinião esse deve ser o foco prioritário do próximo Governador.

Copa do Pantanal

MidiaNews - A participação de Mato Grosso na Copa do Mundo não representou maiores incidentes, mas temos obras ainda inacabadas, inauguradas sem ter sido concluídas, acabamentos mal feitos, aditivos milionários, enfim, você considera satisfatório não somente a questão do jogo em si na Arena Pantanal, mas o conjunto da obra, como você classifica?

Lúdio Cabral - Aquilo que era importante para a realização da Copa do Mundo se deu a contento. Um saldo muito positivo: nós temos uma das melhores arenas do mundo, a ampliação do aeroporto que era um problema até poucas semanas antes do inicio dos jogos concluiu, nós fizemos um evento muito bonito, foi emocionante. Cuiabá demonstrou concretamente uma vocação para hospitalidade e nós plantamos uma semente para o próximo Governo colher, que é a da indústria do turismo. As obras de mobilidade urbana, de infraestrutura, o VLT, são um legado que é resultado da oportunidade de realizar o evento. Não foram obras que teriam um impacto direto no evento Copa, tanto é que as obras que não estão prontas não comprometeram a realização do evento. Elas serão concluídas em pouco tempo, a maioria delas até o final do ano, poucas ficarão para o próximo Governador, talvez a principal delas seja o VLT, que temos que concluir e vamos nos esforçar pra isso.

MidiaNews – Mas a que o senhor atribui os problemas com o atraso nas obras? Falta de gestão?

Lúdio Cabral - Os problemas em relação à execução das obras são resultado do volume de muitas obras no País todo, não somente em Cuiabá. A própria indústria de construção pesada não estava preparada para o volume de obras que o País recebeu nos últimos anos. Mato Grosso por exemplo, está recebendo mais de R$ 5 bilhões em investimentos em hidrelétricas no rio Teles Pires, que estão em construção hoje pelo PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento). A indústria não estava preparada para esse volume, mas da oportunidade vem o aprendizado.

MidiaNews - O senhor pretende fazer algum tipo de fiscalização, auditoria nas obras do VLT?

"O fato de o governador ter sofrido busca e apreensão da Polícia Federal, e o prefeito da Capital também, é demonstração de que as instituições estão funcionando."


Lúdio Cabral - O VLT é um exemplo daquilo que significa o Estado Democrático de Direito. Há instituições públicas que têm o papel de fiscalizar e de acompanhar essas obras, inclusive, para ajudar o Poder Executivo a executá-las. Eu espero que todas as instituições continuem atuando com independência, autonomia, cumprindo seu papel para que os recursos públicos aplicados nessas obras sejam feitos da melhor maneira possível.

Silval e Ararath
MidiaNews - Como o senhor vê a corrupção relacionada a este Governo? Temos um ex-secretário muito influente no Governo passado e no atual, que está preso na Papuda (presídio), acusado de uma lavagem de dinheiro milionária, de crime contra o sistema financeiro. Outros gestores públicos foram citados, inclusive o próprio Governador teve aquele episódio de busca e apreensão no apartamento dele durante a operação Ararath, da Polícia Federal. Lúdio Cabral - Eu analiso olhando para o papel que as instituições devem cumprir. A PF é um órgão vinculado ao Ministério da Justiça e, portanto, ao Poder Executivo, que atuou com plena autonomia. Isso é positivo. Então, o fato de termos problemas identificados nas investigações significa que as instituições estão funcionando. Agora, as investigações têm que cumprir o seu papel, se aprofundar e identificar eventuais culpados e eles serem punidos.

MidiaNews - Ficou bastante claro que esse esquema funcionava colado aos poderes, principalmente no Executivo e no Parlamento. Isso não é grave?

Lúdio Cabral - É grave e na verdade, o MPE e outras instituições também foram identificadas no interior das investigações. O importante é que tudo se esclareça e nós superemos esses problemas.

MidiaNews – Mas o fato de o Governador ter sido alvo de busca e apreensão, na sua opinião, é normal?

Lúdio Cabral - É uma demonstração de que as instituições públicas funcionam independentemente de quem seja investigado. O fato do governador ter sofrido busca e apreensão da Polícia Federal, e o prefeito da Capital também, é demonstração de que as instituições estão funcionando.

MidiaNews – O senhor teve um colaborador com um papel bastante importante na campanha de 2012, o Éder Moraes, que era secretário de estado de Fazenda e está preso. Isso não é um constrangimento? Acha que isso pode te trazer problema? Dizem que ele também teria centenas de cheques q não foram contabilizados. Ele foi importante na sua campanha?

Lúdio Cabral - Todos os apoios que eu recebi na campanha 2012 foram apoios públicos, do Éder Moraes, inclusive, foi público. Disputamos a eleição com uma aliança, uma coligação, e ele foi indicado para ajudar na campanha, um apoio que aconteceu à luz do dia. Na própria eleição de 2012 eu já arquei com o ônus desse apoio e com o saldo no resultado, então, trazer esse tema para campanha de 2014 é tentar forçar um situação que não é real.

MidiaNews – O apoio do Éder Moraes tem algum constrangimento?
Lúdio Cabral - De forma alguma.

MidiaNews – O senhor teme que ele possa ter feito alguma operação que possa lhe prejudicar agora?
Lúdio Cabral – Não.

MidiaNews – Nem mesmo o fato de representar a base governista, onde a operação Ararath respingou?
Lúdio Cabral - Eu sou candidato de um campo político que tem um projeto nacional que governa o país e que quer continuar mudando o Brasil; que é partidária da eleição da presidenta Dilma (Rousseff) e que quer acelerar o ritmo de desenvolvimento do nosso Estado, dando prioridade às politicas sociais. O fato de eu ter sido escolhido como candidato a Governador dessa aliança de partidos é uma demonstração da busca de partidos que represente renovação. A politica é um processo de aprendizado permanente, agora, a influência dessas operações sobre as eleições é uma influência que esta em todos os lados, em todos os campos políticos que disputam a eleição este ano em Mato Grosso.

MidiaNews - Por exemplo?

Lúdio Cabral - O Pedro Taques tem o principal aliado dele, o coordenador da campanha, que é o prefeito de Cuiabá, que é objeto da investigação da PF. E eu não estou culpando por antecipação ninguém, estou mostrando um fato. E o principal financiador da campanha de 2010, que também é alvo das investigações, o Fernando Mendonça, do lado dele. Portanto, a influência nas eleições alcança todos os campos políticos, atinge lideranças de todos os campos.

MidiaNews - Você acha que talvez isso não deva ser usado na campanha?

"O Taques tem o principal aliado dele, o prefeito de Cuiabá, que é alvo da investigação da PF. E o seu principal financiador da campanha de 2010, o Fernando Mendonça, também é alvo das investigações e está do lado dele"Lúdio Cabral - Na minha opinião, a população precisa, ao afazer suas escolhas, tomar isso como parâmetro também, mas não como critério exclusivo para a tomada de decisão no candidato em que votar. É uma oportunidade de nós realizarmos uma campanha com uma influência menor do poder econômico, teremos uma campana muito mais fiscalizada, com a população muito mais vigilante e eu espero que seja uma campanha com a menor influência possível do poder econômico, espero que a gente faça uma campanha limpa.

MidiaNews - No caso do senador Pedro Taques, o maior doador dele, Fernando Mendonça, alvo da Aratath, alvo de busca e apreensão, dizem que ele tem também offshores no Panamá. Você acha isso por si só significa uma ruptura, uma quebra desse discurso da moralidade do senador?

Lúdio Cabral - O senador, inclusive, adotou um comportamento atípico diante dessas investigações. Quaisquer problemas, por menor que fossem, que surgissem no plano nacional, ele sempre foi o primeiro a ir à tribuna do Senado para atacar o Ministério, o Governo Federal, onde tivesse sido detectado qualquer problema e, estranhamente, nesse caso, ele adotou o silencio atípico, que não é do comportamento natural, do padrão dele. Daí o fato da preocupação q eu tenho com o discurso moralista, esse discurso que é seletivo. A nossa população já vivenciou muitas decepções como resultado desse discurso, que vale pra uns e não vale pra outros. O fato de você escolher pra onde você aponta o dedo, com um discurso moralista, mas que vai esquecendo que do seu lado, na sua cozinha há pessoas que precisam dar explicações pra sociedade aos órgãos de investigação, e se silenciar diante disso, é demonstração de um comportamento que não é positivo, não é construtivo.

MidiaNews – Como assim?

Lúdio Cabral - Vou citar dois exemplos que foram decepcionantes: Fernando Collor que se elegeu Presidente da República com um discurso de combate à corrupção, de caça aos marajás e que acabou cassado. O outro é o “paladino da moralidade” que o Congresso Nacional tinha, o senador Demóstenes Torres, também oriundo do Ministério Público e que acabou cassado por envolvimento com atividade criminosa.

MidiaNews – O senhor vê semelhança nos discursos dos três (Taques, Collor e Torres)?

Lúdio Cabral - Eu vejo com preocupação o discurso moralista porque, na minha opinião, ética e moralidade têm que ser pressuposto e tem que ser a base da trajetória nossa, não é preciso arrogar que sou honesto para ser honesto; as pessoas têm que reconhecer em mim a honestidade; as pessoas têm que reconhecer o comportamento ético e isso tem que ser pressuposto pra qualquer cidadão que opte por exercer mandatos.

MidiaNews – É negativo isso?

Lúdio Cabral - É negativo porque gera o risco da decepção, embora esse debate acontecendo durante a campanha, tenhamos todos que fazê-lo de forma aberta, franca, com tranquilidade. Mas muito mais importante é o debate dos problemas do nosso Estado, as carências da nossa população e as tarefas do próximo Governador para projetos futuros.

MidiaNews – O senhor disse que um dos fatores preponderantes para a sua derrota em 2012 foi o poderio econômico. O senhor se refere à compra de votos, contratações? Porque a gente ouve dizer q foram de R$ 20 a R$25 milhões despejados no segundo turno. Isso procede? O senhor teme de novo esse poderio econômico?

Lúdio Cabral - Nesse sentido, a operação Ararath é um fato positivo, que revela fatos da campanha de 2012 e que nos permite na eleição uma campanha com menos presença do poderio econômico, de massificação da campanha.

MidiaNews - Revela que fatos, por exemplo?

Lúdio Cabral - O empréstimo que foi realizado às vésperas do segundo turno, no valor de R$ 3,4 milhões, mas quem vai responder isso são as investigações, o Ministério Público.

MidiaNews - Isso não seria Caixa 2? Porque o empréstimo foi feito e nome de pessoa física em uma empresa que não era factoring...

Lúdio Cabral - As investigações vão esclarecer e eu espero, sinceramente, que não tenha sido isso.

Críticas a Taques

MidiaNews - As convenções deram uma noção do quão intensiva pode ser essa disputa eleitoral porque os discursos foram muitos contundentes e até agressivos, da parte do candidato da oposição, senador Pedro Taques (PDT), que foi pra uma linha bastante dura, falando de corrupção, podridão, que a Seduc administrada pelo PT era uma quitanda. O senhor também respondeu à altura, fez críticas ao perfil dele, disse que ele teria uma moral seletiva, e acabou que formou-se uma expectativa grande em relação a intensidade desse debate. Fora as propostas e programa de governo, essa disputa deve ter um tom mais incisivo?

Lúdio Cabral – Vamos fazer uma campanha propositiva. Agora, não vamos deixar nada sem resposta. O que vier de lá, terá resposta. Nos não vamos partir para o ataque, mas se atacarem, vamos responder na mesma altura e no mesmo tom. Eu espero, sinceramente, que o outro lado tenha juízo e faça também um discurso propositivo porque a gente precisa respeita a população, ela quer saber sobre o futuro do Estado, só que não vamos apanhar quietos. Se bater, vai levar.

"É um modelo de atuação de uma pessoa só, de um homem só, que sabe tudo e que sozinho vai resolver todos os problemas; isso é um risco para o Estado e para a nossa população"


MidiaNews - Como o senhor avalia essa tônica do discurso do candidato de oposição?

Lúdio Cabral - É da natureza dele. Um candidato que tem origem no Ministério Público, que passou a vida inteira acusando e que no Senado manteve esse comportamento, de atirar pedra o tempo todo, de torcer contra o tempo todo e contra tudo, atacando de forma desrespeitosa a Presidente da República, torcendo contra todas as ações do Governo Federal em parceria com o Governo do Estado, torcendo contra a Copa, contra o VLT, contra as obras de mobilidade, contra o programa MT Integrado (de pavimentação no interior), é natural ter esse tipo de comportamento. É a característica do Governo que ele pretende fazer. É um modelo de atuação de uma pessoa só, de um homem só, que sabe tudo e que sozinho vai resolver todos os problemas; isso é um risco para o Estado e para a nossa população. Essa postura de comprar muita briga, de partir para um enfrentamento. É um risco porque o Estado é formado por instituições e cada uma tem um papel. O Legislativo tem uma tarefa, de propor leis e de fiscalizar o Executivo; o Judiciário tem um papel; o Ministério Público tem uma tarefa; o Tribunal de Contas tem outra tarefa e o Poder Executivo tem a tarefa de realizar políticas públicas, respeitando e dando autonomia para as outras instituições trabalharem.

MidiaNews - Qual sua avaliação dele como senador?

Lúdio Cabral - A avaliação dele já demonstra a dificuldade de se comportar de acordo com o papel que o cargo pressupõe. Por exemplo, um Senador representa o Estado, não os interesses de uma parcela do Estado. A atuação de um Senador tem que ser conciliadora, de diálogo, de compromisso com o conjunto do Estado e, nesses três anos e meio de mandato, o adversário não demonstrou esse perfil que se espera de um Senador da República. Por conveniência política e talvez, já olhando, o período eleitoral, aliada ao lado da própria natureza, do próprio perfil do Senador, e isso, na minha avaliação, é um risco para o Estado porque no exercício de um mandato executivo você tem que ter muita habilidade, diálogo; você tem que saber escutar a população, mediar os muitos interesses que atuam na política para dentro de um programa de governo, de princípios que você estabelece. É importante ter vontade no poder executivo, mas e importante também ter capacidade de mobilização pra poder realizar as ações que precisam ser realizadas.

MidiaNews – É uma avaliação bastante crítica...

Lúdio Cabral - Mas é isso, falta humildade. Ele está atuando na política há 3 anos e meio, exercendo um mandato com comportamento de promotor de justiça.

MidiaNews - E como senador, que a avaliação o senhor faz desses anos de mandato dele?

Lúdio Cabral - Na minha opinião ele precisa, inclusive, exercer o mandato até o final, concluir os 8 anos para honrar os compromisso que ele fez com a população, com um discurso muito apegado à Constituição, à reforma da legislação penal. Então, ele precisa continuar senador pra demonstrar trabalho para a nossa população. Inclusive ele sempre criticou políticos que usam mandatos como trampolim...Em 2012, na pré-campanha, ele criticou muito o aliado dele, Mauro Mendes, por conta desse comportamento trampolim e aquilo que ele criticou agora pratica. Ele está há três anos e meio fazendo campanha para o cargo de Governador, abrindo mão do papel que um Senador da República tem que exercer.

MidiaNews - O senhor acha que a opinião pública percebe esse tipo de comportamento? Sabe avaliar isso? Porque ele está muito bem avaliado nas pesquisas e é o favorito, até agora.
Lúdio Cabral - A campanha, felizmente, é uma oportunidade para as pessoas se apresentarem melhor e por meio do diálogo com a população e do debate político, esclarecer suas características, o seu perfil, os seus propósitos. Eu acredito que vamos ter a oportunidade para fazer isso nesses três meses de campanha. O posicionamento do Senador nas pesquisas de intenção de voto é até, neste momento, um reflexo do fato de ter sido o único candidato em campanha até agora. A minha candidatura só se definiu três dias antes das convenções. Agora, com o quadro definido, com cinco candidaturas, cada uma com um perfil, cada uma que vai defender um projeto de Estado, vai ficar melhor para a população fazer a avaliação do que é melhor pro futuro do Estado.

MidiaNews - Na sua opinião, o senador Pedro Taques pode vencer no primeiro turno?

Lúdio Cabral - A leitura que eu faço é muito mais voltada para a nossa campanha. O fato de eu ter, na última pesquisa realizada, três semanas antes das convenções, 17% de intenções de voto no Estado, e ele 38%, aliado ao fato de eu ter muito conhecimento aqui em Cuiabá, na baixada cuiabana, acredito que na capital já está polarizada a disputa. Tem pesquisas que demonstram empate técnico, ora eu com um ponto à frente; ora ele, um ponto à frente. Isso demonstra que quem me conhece faz uma boa avaliação do meu perfil e aponta meu nome como candidato em potencial.
"Tem pesquisas que demonstram empate técnico. Isso demonstra que quem me conhece faz uma boa avaliação do meu perfil e aponta meu nome como candidato em potencial"
MidiaNews – E no interior?

Lúdio Cabral - Eu sou pouco conhecido no interior, embora eu tenha, desde o final de janeiro, percorrido todo o Estado, alcançando 123 municípios em uma caravana e em cada um desses municípios ter mobilizado as nossas bases para tratar dos problemas daquilo que a população enxerga como prioridade para ser o próximo Governador. A oportunidade que a campanha me dá de me tornar conhecido é a leitura que nós fazemos de que há um potencial grande de crescimento do meu nome, assim como aconteceu em Cuiabá em 2012.

"Bom moço"

MidiaNews - O senhor pretende repetir a imagem do “Lúdio Paz e Amor”, adotada na campanha de 2012? Foi uma estratégia eficaz?

Lúdio Cabral – É da minha natureza esse comportamento de buscar o diálogo, de respeitar a diferença do adversário, agora, quando atacado, nós não poderemos deixar sem resposta um ataque que seja desferido contra a gente.

MidiaNews - Alguns consideram que essa sua imagem de bom moço, esse estereótipo, provavelmente tenha prejudicado sua vitória na eleição em 2012, por conta do sentimento da população de que precisava de alguém com pulso firme, que batesse na mesa. O senhor acha que vale a pena manter essa postura?
Lúdio Cabral - Eu comecei a campanha em 2012 com 4% das pesquisas e nós quase vencemos as eleições. Minha opinião é que o principal fator de influência nas eleições de 2012 foi o fator econômico. É lógico que no segundo turno, que é um momento mais polarizado, de um debate de contraste, nós fizemos a opção de continuar apresentando propostas ao invés de confrontar o contraste que existia entre os candidato e isso talvez tenha sido um erro cometido por nós, mas que é um aprendizado para esta campanha.

MidiaNews – O senhor admite então que seguir só na linha propositiva, mais light, no segundo turno não é viável...

Lúdio Cabral - No segundo turno (em 2012) nos deveríamos ter debatido o contraste, as diferenças entre os dois candidatos, mas continuamos apresentando propostas, sendo que as pessoas queriam saber qual era a diferença dos dois candidatos: um se apresentava como o administrador, que resolveria os problemas, vindo do setor privado e, do lado de cá, um servidor publico, comprometido com as lutas sociais, com a população mais humilde em sua trajetória. Então esse contraste teria que ser melhor explorado. No entanto, não se trata de fazer um campanha mais agressiva ou não porque uma campanha minha sempre vai ser respeitosa, propositiva, mobilizadora, emocional, por conta das minhas características, da minha natureza, do meu vínculo com as pessoas, com a população. Há um momento em que o debate precisa ser mais politizado e acontecendo isso na campanha deste ano, me sinto preparado.

MidiaNews – O senhor foi criticado por aliados, na campanha de 2012, por não ter feito ataques, não ter defendido alguns aliados e ter optado por não utilizar alguns materiais com acusações bastante graves e contundentes contra o seu adversário. Como ficou isso em relação à sua campanha?

Lúdio Cabral - Utilizar determinadas armas em campanhas eleitorais, nós jamais utilizaríamos, não vale a pena ganhar a eleição a qualquer custo. Agora, o que é importante é debater conteúdo político e esse debate nós talvez devêssemos ter feito com mais profundidade em 2012.

Gestão de Cuiabá

MidiaNews – O senhor já disse que o prefeito Mauro Mendes, na verdade, teria dado sequência à gestão do ex-prefeito Francisco Galindo. Como o senhor avalia a administração atual de Cuiabá?

Lúdio Cabral - Embora tenhamos sido adversários em 2012, o fato de o tempo passar, faz a gente olhar com mais isenção. Eu percebo um prefeito que se esforça para imprimir na administração pública um modelo de gestão que ele aprendeu e foi bem sucedido na administração privada e que encontra dificuldades para imprimir esse ritmo por conta de não bastar vontade: você precisa de capacidade de convencimento, de mobilização, de diálogo para dar conta disso e enfrentar as demandas.

MidiaNews - Mas até agora é uma gestão boa?

Lúdio Cabral - É uma gestão de um prefeito que tem se esforçado, mas não tem dado conta de superar, no ritmo necessário, os principais problemas que a cidade tem. Houve melhoras em alguns setores, por exemplo o trânsito, a construção dos corredores exclusivos, que é uma iniciativa positiva, mas por outro lado o modelo de transporte coletivo não mudou. A prioridade nas obras de pavimentação e recapeamento é uma iniciativa positiva também, mas, por exemplo, a saúde em Cuiabá continua com os mesmos problemas de antes




Fonte: Midia News

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