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Polícia Brasil
Sábado - 30 de Novembro de 2013 às 22:29
Por: Flávia Cristini

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A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou, na sexta-feira (29), que abriu procedimento para investigar possível prática ilegal no serviço da aeronave de propriedade de uma empresa do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG). A apuração foi aberta no domingo (24), no dia da apreensão da aeronave. O helicóptero foi recolhido pela Polícia Federal, no Espírito Santo, carregado com mais de 400 quilos de cocaína.


 
Segundo o órgão, a aeronave não tem autorização para fazer fretamento. Conforme a Anac, para o serviço de táxi-aéreo, é preciso registro em categorias específicas, de acordo com as atividades a serem executadas. Além disso, a empresa de táxi-aéreo deve possuir autorizações de funcionamento jurídico e operacional. Segundo a agência, o helicóptero de Perrella é de categoria privada, ou seja, destinada às aeronaves particulares.


 
Em nota, o gabinete de Gustavo Perrella esclareceu que a aeronave é destinada prioritariamente ao transporte do deputado, em 90% das vezes em atividade parlamentar. Alegou ainda que há uma prática comum, entre os proprietários de aviões e helicópteros, dado o alto custo de manutenção, ceder o veículo para transporte terceirizado, o que já teria ocorrido cerca de cinco vezes. A nota afirmou ainda que, como a aeronave não está registrada como táxi-aéreo, se for identificada alguma irregularidade, o deputado vai buscar a regularização junto à Anac.



 
Declarações divergentes
Depoimentos à Polícia Federal de presos em flagrante em uma fazenda no Espírito Santo, onde cerca de 450 quilos de pasta-base de cocaína eram descarregados nesta segunda-feira (25), revelam divergências sobre o valor negociado pelo transporte da droga. Os detidos deram poucas informações sobre o grau de relacionamento entre eles, citaram nomes ainda não esclarecidos pela polícia, mas não apontaram quem seria o dono e a origem da droga.



 
Um dos ouvidos é o piloto Rogério Almeida Antunes, natural de São Paulo. Ele afirmou em depoimento que foi “pressionado” por Alexandre José de Oliveira Júnior para fazer o voo. Este também natural de São Paulo abastecia a aeronave no momento da abordagem policial, segundo informações passadas à PF. Antunes contou à polícia que recebeu dele uma oferta de R$ 106 mil para “carregar um ilícito”. As despesas com a aeronave também seriam custeadas. Ele declarou também que, pelo valor oferecido, imaginou que fosse droga.


 
Antunes era funcionário empresa Limeira Agropecuária, pertence à família do deputado Gustavo Perrella (SDD), e da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Após a prisão, perdeu os cargos.


 
A prisão foi feita pela Polícia Militar (PM), e um tenente ouvido pela PF relatou que Antunes, ao ser abordado, informou que o amigo “copiloto Alexandre” havia combinado o frete, a entrega do entorpecente, e receberiam R$ 60 mil pelo serviço. Este valor foi confirmado no depoimento de Júnior, de primeiro nome Alexandre.


 
Questionado se o senador Zezé Perrella (PDT) ou alguma pessoa da empresa Limeira Agropecuária tinha conhecimento do voo realizado para transporte da droga, o piloto respondeu que ninguém sabia do transporte da droga, mas que autorizavam a realização de fretes pelo interrogado, ao preço de R$ 2 mil a hora. Ainda segundo o depoimento, o voo para buscar e transportar a droga levou 18 horas.


 
Nesta quarta-feira (27), ao ser questionado se houve contato entre o deputado Gustavo Perrella e o piloto, o advogado do parlamentar afirmou que eles trocaram torpedo sobre uma negociação de R$ 12 mil pelo uso da aeronave em um frete, sem data e motivo esclarecidos.


 
O piloto disse não conhecer os outros detidos e reconheceu que ajudou a descarregar a carga para um veículo. Ele está preso no Espírito Santo, onde é defendido pelo advogado Nicácio Tiradentes. Em entrevista ao G1 nesta quinta-feira (28), ele sustenta a versão já dada em contato anterior de que o cliente não tinha conhecimento de que a carga seria ilícita.


 
Quanto aos valores divergentes, o defensor afirma que ainda não concluiu a leitura do inquérito policial. Ele afirma não ter conversado com o cliente sobre esta questão e desqualificou o depoimento dado à Polícia Federal. “Ele estava muito nervoso, não sabe nem o que falou direito.  Foi colocado valores na boca, foi muita pressão. O próximo depoimento vai ser em juízo, mas ainda não sei se é estadual ou federal, vai depender da origem da droga”, afirmou.
 


Origem da droga
A origem da droga ainda é um ponto não divulgado pela Polícia Federal. Segundo o relato do piloto a que o G1 teve acesso, ele afirma que a origem da droga foi no estado de São Paulo, perto da cidade de Avaré. Dois homens brancos, de identidade não revelada por ele, teriam feito o carregamento. Segundo ele, a decolagem aconteceu sem plano de voo aprovado e que o pouso em Afonso Cláudio foi determinado por Júnior, que o acompanhou durante o trajeto, ou por alguém em contato com este.


 
O trabalho de receber a droga na fazenda e encaminhá-la ao destino final seria de Robson Ferreira Dias. Segundo o tenente, ele disse durante a abordagem que recebeu R$ 20 mil pelo serviço, valor que foi confirmado por Dias no depoimento à Polícia Federal. No relato à PF, ele citou um suposto negociador do transporte da droga por terra, de apelido “Chácara”, o qual seria fazendeiro de Ponta Porã, cidade que faz fronteira com o Paraguai. Segundo Dias, este foi apresentado a ele por um indivíduo de nome “Luís Carlos”.


 
Consta no depoimento que o preso recebeu adiantamento de R$ 10 mil de “Chácara” para transportar o entorpecente em um veículo Polo, de propriedade do detido. O encontro com o destinatário final seria em um posto de gasolina na entrada da cidade de Afonso Cláudio.


 
Outro personagem desta história policial é Everaldo Lopes Souza, que teria indicado a fazenda onde a droga foi descarregada. No depoimento, ele diz que conheceu Robson na véspera da prisão e receberia US$ 100 pela indicação do caminho até a propriedade. Ele alega que teria sido informado de que um piloto procurava um lugar para pousar, trazendo “muamba” do Paraguai. Afirma também, que “enquanto descarregavam, percebeu que não se tratava de ‘muamba’ e sim de droga”.


 
O G1 tentou contato com o advogado de Alexandre José de Oliveira Júnior, mas ele não foi encontrado.


 
Procurada, a esposa de Everaldo Lopes Souza disse que foi informada, por meio de uma ligação do marido, sobre a prisão e que não o visitou ainda. Segundo a mulher, Souza é trabalhador e que “nunca se envolveu em coisa errada”. A esposa ainda afirmou que o homem havia viajado para o sítio do pai, perto da cidade de Afonso Cláudio.





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