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Economia
Segunda - 28 de Outubro de 2013 às 23:50

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Com a estreia das estatais China National Petroleum Corporation (CNPC) e China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) no setor de petróleo e gás brasileiro — as duas integram o consórcio vencedor do leilão de Libra, realizado na última segunda-feira — os chineses dão mais um largo passo sobre o pré-sal brasileiro. Com Libra, sobe para três o número de blocos em que estatais chinesas atuam no pré-sal. Incluindo o pós-sal, elas são sócias de 12 blocos. E ainda pretendem entrar no segmento de refino.

O movimento é visto por alguns como uma bem-vinda parceria, já que aumenta a concorrência no setor petrolífero, desafogando a Petrobras — que está sob forte estresse financeiro. Mas é avaliado por outros como um risco para as contas externas nacionais, já que a maior presença chinesa no setor deve elevar as exportações de petróleo para o país asiático, acentuando a dependência da economia brasileira em relação à China, principal destino de nossas exportações.

São quatro os tentáculos chineses que avançam sobre o petróleo brasileiro. Além da CNPC e da CNOOC, as estatais Sinopec e Sinochem também tem negócios no Brasil. Embora originalmente focadas na indústria petroquímica e química, elas diversificaram sua atividade na última década, ingressando na produção de petróleo, dentro da estratégia do governo chinês de assegurar o suprimento de matérias-primas para seu desenvolvimento econômico. No Brasil, a Sinopec se associou à espanhola Repsol em 2010, criando a RepsolSinopec, que atua em nove blocos. A Sinochem se tornou sócia da norueguesa Statoil no mesmo ano em dois outros blocos.

— A vinda de mais empresas chinesas é positiva, pois aumenta a competição no setor. É melhor diversificar os atores do que concentrar os investimentos nas mãos de poucos dado o enorme desafio que é o pré-sal brasileiro e situação financeira da Petrobras (cujo nível de endividamente está no limite) — avalia Walter De Vitto, analista de petróleo da consultoria Tendências.

No pré-sal, a RepsolSinopec já atua em dois blocos, concedidos quando ainda não se tinha comprovação de petróleo abaixo da camada de sal. No BMC-33, a empresa já perfurou três poços, com reserva estimada em 1,2 bilhão de barris de óleo equivalente (boe, que inclui óleo e gás), considerada a maior descoberta do pré-sal da Bacia de Campos. Mês que vem, a companhia deve iniciar a segunda fase da campanha exploratória, perfurando mais poços. Ainda não há previsão de produção, mas segundo a empresa, o primeiro óleo não deve brotar antes de 2018. A RepsolSinopec tem 35% do bloco (é operadora do consórcio), a Statoil tem outros 35% e a Petrobras, 30%.

Campos em produção estão entre 20 maiores do país

Outro bloco no pré-sal em que a empresa atua é o BM-S-9, na Bacia de Santos, no qual a Petrobras e a britânica BG também são sócias. Neste, há duas áreas promissoras: Sapinhoá e Carioca. A produção em Sapinhoá foi iniciada em janeiro deste ano, com uma plataforma com capacidade para 120 mil barris de petróleo diários. A segunda plataforma deve entrar em produção no segundo semestre de 2014, com capacidade de 150 mil barris/dia. Carioca deve entrar em produção em 2015.

O portfólio da empresa inclui ainda o campo de Albacora Leste, na Bacia de Campos, um dos 20 maiores em produção no país e no qual é sócia da Petrobras, e outros seis blocos exploratórios. A Sinopec também negocia com a Petrobras uma sociedade em uma refinaria no Maranhão, parceria que pode ser estendida a mais uma unidade no Ceará. Já a Sinochem tem atuação mais tímida, com 40% do campo de Peregrino, situado em dois blocos na Bacia de Campos. Com produção de cerca de 100 mil barris de petróleo por dia, ele também está na lista dos 20 maiores do país.

Se a parceria da Sinopec com a Petrobras vingar, será mais um passo para estreitar a aliança entre as duas empresas. Foi a Sinopec que inaugurou a onda de investimentos de companhias estatais chinesas no setor de petróleo brasileiro, com a construção do Gasoduto Sudeste Nordeste (Gasene), em 2004. O negócio foi fechado no âmbito da estratégia do então presidente Lula de fortalecer a cooperação Sul-Sul, um desdobramento dos projetos conjuntos de ciência e tecnologia formados na década anterior. Desde então, os laços comerciais entre os países não param de crescer. Em 2009, a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil, posto que ocupa até hoje.

— É natural que o Brasil passe a exportar mais petróleo para a China, de forma a aproveitar a demanda asiática e se beneficiar da estratégia chinesa de diversificação de fontes energéticas. Ao mesmo tempo, é importante evitar o vício das exportações dos commodities, cujos preços podem oscilar violentamente, tornando a economia como um todo vulnerável. A melhor forma de lidar com essa assimetria é fazer o dever de casa: reformas no âmbito doméstico para agilizar e equilibrar a economia brasileira, fomentando não apenas a agriculturade exportação, mas também indústria e serviços — diz Adriana Erthal Abdenur, professora do Instituto de Relações Internacinais da PUC-Rio e coordenadora geral do BRICS Policy Center.





Fonte: O Globo

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