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Internacional
Domingo - 15 de Dezembro de 2013 às 02:49

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"Quantas grandes empresas e universidades brasileiras têm presença permanente em Washington? Quantos canais de diálogo fora do governo existem para se avançar ou discutir os interesses brasileiros nos EUA?", pergunta Michael Werz, pesquisador-sênior para países emergentes do Center for American Progress, um centro de estudos ligado ao Partido Democrata.


 
Ele mesmo responde. "Quase nada. Nesta cidade, o Brasil parece país pequeno".


 
A opinião é compartilhada por dezenas de especialistas em relações internacionais da capital americana ouvidos pela Folha. Em tempos em que a relação entre os governos Dilma e Obama está na geladeira, por causa do escândalo de espionagem, a interlocução é modesta.


 
"O Brasil claramente não tem uma narrativa em Washington", diz o presidente do think tank [centro de estudos] Interamerican Dialogue, Michael Shifter.


 
PÁLIDO


 
"Perto de outros emergentes, a presença do Brasil é pálida", concorda Julia Sweig, diretora do programa de América Latina do Council on Foreign Relations.


 
As cinco maiores associações empresariais da Turquia têm escritório próprio na cidade para fazer contatos e lobby. Tanto México quanto Índia apostam na força da diáspora, com associações e prêmios a mexicanos e indianos-americanos de destaque.


 
A representação brasileira aumentou nos últimos anos, com a criação de um escritório da Coalizão da Indústria Brasileira (BIC, da sigla em inglês), ligada à Fiesp, em 2000, e com o Brazil Institute, do Wilson Center, em 2006, único entre os 400 centros de estudos da cidade com programa exclusivo dedicado ao Brasil.


 
"Outros países onde o peso da relação comercial com os EUA é similar investem bem mais", diz Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute.


 
"O investimento de diversos países aqui é para conquistar acesso. É para ter amigos em Washington a quem ligar", diz Andrew Selee, que fundou o Mexico Institute do Wilson Center em 2003.


 
O orçamento do instituto mexicano, com doações privadas, é quase três vezes maior que o do brasileiro.


 
"Boa parte da agenda bilateral de EUA e México trata de assuntos domésticos, como comércio, imigração, segurança. Com o Brasil, é só geopolítico, que é bem menos influente com políticos e com o Congresso daqui".


 
O patrocínio de estudos e pesquisadores nos centros de estudos não se trata apenas de divulgar a imagem desses países nos EUA, mas de influenciar governos no futuro. Vários think tanks são o empregador natural de democratas e republicanos quando não estão no governo.


 
ETANOL


 
"Em Washington é fundamental saber navegar o mundo do lobby, dos think tanks e da mídia para conseguir ser ouvido", diz Leticia Phillips, representante para a América do Norte da associação da cana e do etanol brasileiros Unica.


 
A entidade fez lobby para o Congresso americano derrubar as altas alíquotas contra o produto --e conseguiu.


 
A Coreia do Sul contratou vários escritórios de lobby para arrancar vantagens do acordo comercial bilateral e até para garantir mais vistos para profissionais coreanos.


 
O acordo de livre comércio entre os EUA e a Coreia do Sul foi aprovado em 2011. O superavit que os coreanos têm com os americanos cresceu 60% em relação a 2010. O governo brasileiro não contrata escritórios de lobby nos EUA. A Coalizão de Indústrias Brasileiras (BIC) tem autorização para fazer lobby.


 
Mas, segundo o site Open Secrets, que trabalha com os dados oficiais de lobby direto no país, a Coalizão investiu abaixo do valor que é registrado pelo site, de US$ 10 mil/ano. A Federação das Indústrias da Coreia do Sul gasta US$ 400 mil por ano em lobby direto.


 
Um programa de estudos brasileiros na Universidade Georgetown teve seu auge entre 2000 e 2006, com patrocínio da Motorola, Coca-Cola e Alcoa, mas sofreu um baque após escândalo de corrupção.


 
O coordenador do programa foi afastado e condenado depois do desvio de US$ 311 mil em notas fiscais frias a professores fantasmas. Ele fugiu dos EUA em 2005. Na semana passada, a Justiça americana discutia o arquivamento do processo por não conseguir localizar o réu.




Fonte: Terra

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